Blog duma gaja... bem... esquisita, estranha, tarada:) Enfim... queer!

10.21.2005

Apontamentos

Alguns apontamentos sobre peças de hoje no Público:

1) para além das conservadoras propostas para a procriação medicamente assistida vai também ser aprovada em Portugal legislação quanto à investigação em células estaminais. Há um artigo de opinião, assinado por um ex-Secretário de Estado da Ciência do PSD, que classifica de “descartável e utilitarista” a concepção do embrião que permite a recolha de células estaminais em embriões produzidos para o efeito, recusando por isso a clonagem terapêutica (existem mais dois argumentos mas são tão acessórios que não merecem rebate). Infelizmente parece que toda a esquerda portuguesa (se esquerda se pode chamar) concorda com esta perspectiva, pois ninguém admite a produção de embriões especificamente para este fim. Preocupar-se com células de embrião como se de vida humana se trata-se parece-me ridículo. Estes senhores deviam proibir o desperdício de esperma e deviam retirar os óvulos maduros de todas as mulheres, antes deles serem desperdiçados no período:)
Enfim, a esquerda descurou a reflexão bioética (que é um feudo de padrecos e afins), e agora sai-se com estes...abortos.

2) três peças de entrevista a Jorge Lacão, do PS, onde são usados, finalmente, alguns conceitos básicos de cidadania e igualdade de género!

De salientar a preferência pela linguagem da igualdade de género e não meramente da não discriminação das mulheres (que é apenas uma parcela dessas preocupações de género); o salientar de que a violência doméstica é apenas um dos aspectos da violência de género; o salientar de que estas questões são questões de direitos das pessoas e não das famílias.

Louvável também é, finalmente, a preocupação de criar uma rede nacional de atendimento contra a discriminação, no caso com gabinetes descentralizados nas autarquias.

Útil a criação de um conselho de opinião sobre novos direitos e novas famílias.

De notar a abertura de Lacão ao casamento homossexual, à adopção e à procriação assistida acessível a qualquer mulher.

Pequena conquista que muito me agrada: a ADSE vai alargar os seus benefícios a todos os companheiros em união de facto, independentemente da orientação sexual. Pequena grande conquista para breve (é relativamente insignificante mas é pedida há tanto tempo e simplifica tantas burocracias): o registo das uniões de facto e a regulamentação de outros aspectos que o necessitem das mesmas.

3) o OE para a educação: vão existir verbas para apetrechamento de salas de trabalho para professores. Salvé! Vamos lá a ver se é desta que aparece um aquecedorzito na sala do meu departamento e um computadorzinho. Cadeiras de escritório e não de sala de aula também eram uma ideia – afinal é suposto lá estarmos horas e horas.
Há coisas muito louváveis, como o programa de refeições para o 1º ciclo – sim, porque há pobreza e fome em Portugal. E o Inglês, também para o 1º ciclo (se bem que há grandes abusos: sabem quanto é que o ME disponibiliza por hora para este ensino para turmas de 25 alunos? 5 euros. E se calhar não são todos para o professor. Enfim, cada vez pagam menos para “entreter” as criancinhas e descansar os pais...).
Há um valor que é o triplo dos do equipamento e dos almoços: a formação contínua de professores. Sinceramente acho que são só tachos para pagar elevados ordenados de formadores. Não que não seja preciso formação contínua. A questão é que o sistema está tão cheio, e tornou-se tão competitivo, que os professores que estão nele já são muito bem formados e profissionais (salvaguardo a formação pedagógica em matemática e português, sempre necessária). Talvez fosse de pensar, temporariamente, outras prioridades.

4) Nova multa da Autoridade da Concorrência contra outro cartel, o da moagem (pão). É tão raro funcionar a fiscalização de empresas em Portugal que merece destaque.

5) Convenção de defesa da diversidade cultural adoptada pela Unesco. Esta convenção permite mecanismos de fecho à invasão cultural doutros países e mecanismos de apoio específico aos produtos culturais do próprio país, valendo tanto como qualquer regra da OMC sobre comércio de bens e serviços culturais. É realmente uma grande derrota para os EUA, nomeadamente naquela que é a sua indústria cultural mais agressiva, a audiovisual. Falta agora ratificar mas a proposta foi tão amplamente apoiada que não deverá demorar tanto assim.
Vamos a ver o que é que o audiovisual europeu consegue fazer disto...