Blog duma gaja... bem... esquisita, estranha, tarada:) Enfim... queer!

11.24.2005

Colóquio Foucault

Comunicação de Fernando Cascais sobre o dispositivo: o dispositivo, num mesmo movimento, produz o sujeito como objecto (de um dado conhecimento) e como sujeito (duma dada relação consigo próprio). O dispositivo pan-óptico (inicialmente estrutura arquitectónica proposta por J. Bentham, para reformar as prisões, que consistia numa torre de vigia em redor da qual estavam as celas dos prisioneiros, que eram castigados sempre que cometiam infrações, chegando ao ponto de se auto-vigiarem para não as cometer e não serem punidos) ter-se-ia alargado a toda a sociedade, criando a sociedade disciplinar e normalizadora. A punição, ou o exercício do poder, não consiste na repressão de comportamentos (hipótese repressiva) mas sim na produção de comportamentos.
A aplicação deste conceito à sexualidade leva ao conceito de ciência sexualis (a ciência que transforma a relação a si do sujeito numa relação centrada no ter e ser uma sexualidade), a biomedicalização da sexualidade.
Mas a contribuição original da comunicação de Cascais é a proposta da inspiração de Foucault no conceito de técnica de Heidegger, nomeadamente da técnica como Gestell, ou seja a essência da técnica moderna como perigosa na forma como altera a experiência da essência humana, do modo de vida especificamente humano (a relação do humano a si próprio), ao ver os seres humanos como meio, recurso, matéria-prima de produção, de objectos e de sentidos.
Vera Porto Carrero - centrou-se na distinção arquivo (mundo das relações de força já determinadas)/ invenção (mundo das relações vivas, sempre em possível negociação, mundo de riscos). Salientando que continua a fazer sentido pensar as formas de resistência como invenção doutras relações sociais, doutros modos de humanar, de re-fundar socialmente o homem. Mas, para isso, o Outro tem que ter um qualquer poder, para negociar - a relação de poder (em que o Outro é reconhecido e mantido e não assimilado como sujeito-identidade) é que permite a invenção, a resistência, e é o contrário da relação de violência (que se caracteriza pela ausência total de poder do Outro).
Merece especial relevo a comunicação de Manuela Ivone Cunha. Talvez mais logo tenha tempo de vos dar umas ideias. Fui!