Para sermos amigos assim...
O actual Papa, com a sua habitual arrogância face às outras religiões, propôs-se esta semana dialogar mais com os islâmicos, convidando-os a serem uma coisa que ele entende que eles não são: racionais. Ora, convidar para o diálogo alguém a quem não atribuímos o estatuto da racionalidade...
Concretizando: o que pode um islamista moderado, precisamente aquele que se gaba de lidar racionalmente com a sua fé, pensar dum Papa que afirma que o Islão é uma doutrina segundo a qual Deus é absolutamente transcendente e a sua vontade não está ligada a nenhuma das nossas categorias, mesmo a da razão. Citou ainda um teólogo muçulmano dos séc. X e XI, Ibn Hazn, segundo o qual “Deus não seria sequer ligado pela sua própria palavra e nada o obrigaria a revelar-nos a verdade”. Ou seja, arrogou-se em intérprete da fé dos outros e apontou-a como totalmente ilógica.
Isto é ainda mais irónico (mas infelizmente também muito sério e muito grave no actual contexto histórico) quando a palestra em que o fez se destinou a proclamar uma maior relação entre a fé cristã e a racionalidade, não a racionalidade científica, mas uma racionalidade filosófica (para lutar contra a ideia de que o cristianismo está ligado exclusivamente à crença, o que prejudica o seu estatuto social nestes tempos tecnocientíficos) - ora, é exactamente nisso que acreditam os islâmicos moderados. Mais inteligente teria sido salientar esta convergência, ou seja, apelar aos islâmicos moderados como mil vezes já perceberam os políticos, do que atacá-los.
Resumindo: num texto em que classifica a Jihad como totalmente irracional o Papa mostra afinal que a Igreja Católica tem razões para querer a guerra civilizacional. Quais? As básicas razões sociológicas do conflito: quanto mais os transformarmos em "eles" mais se identificarão como "nós". E numa altura de perda de fiéis...
1 Comments:
Se isto continuar assim, dentro de anos o diálogo inter-religioso será apenas uma recordação!
:-(
11:21
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