(D)eficiências
Há alguns meses decidi não expor aqui questões privadas relacionadas com o estado de saúde da minha amorinha. Mas há efeitos públicos ou sociais desse estado, que espero ser mais de convalescença do que de doença, que me têm surpreendido pela força com que se manifestam. Refiro-me especialmente à forma como a maioria das pessoas na rua reage ao vê-la tão magra: o medo, não sei se da morte, não sei se de algum imaginário contágio (do azar ou da doença) e, principalmente, a constatação de como se espera que tudo isso seja invisibilizado, que pessoas assim não andem por aí, aos olhos de todos. É clássica a ideia de Morin da invisibilização da morte nas sociedades contemporâneas. Mas nunca me tinha apercebido o ponto ao qual esta invisibilidade contagia também a aparente doença.
E se há espaços urbanos onde andarmos abraçadas passava relativamente desapercebido (refiro-me à Baixa, por ex.), não passa de todo desapercebido sermos as fufas abraçadas, uma delas aparentemente muito jovem e aparentemente muito doente.
2 Comments:
Melhoras para a tua menina, e felicidades para vocês as duas.
19:46
Não sei qual é o problema de saúde da tua companheira, nem é isso que aqui interessa.
As pessoas deviam sentir-se incomodadas não com o que vêem quando vocês estão na rua abraçadas mas sim com os seus próprios olhares.
É tentar ignorá-las, é o melhor.
22:24
Enviar um comentário
<< Home