Frivolidade ou meta-blogging:)
Se uma grande parte da arte contemporânea e do respectivo discurso crítico são manifestamente aversos à beleza, também é verdade que a beleza - porque não versa sobre ideias - foi praticamente sempre aquilo que as pessoas sérias [:)] querem ultrapassar tão depressa quanto possível quando discutem obras de arte. (...)
Na velha história da arte, aquela em que tínhamos obras de arte (...) o belo era aquilo em que o superior se tornava quando entrava em declínio. (...)
Basta por agora dizer que, tendo de-esteticizado a arte e tendo-a substituído por uma espécie de antropologia cultural (...) o mundo da arte contemporânea representa no mínimo uma versão intensificada da situação tradicional. Mas a minha desavença com ele é que ele também não passa disso. Hoje, mais do que nunca, a beleza é sempre o "meramente" belo, ao passo que o sublime nunca é "meramente" sublime (...)
Na minha opinião, isto constitui um sinal da grande força da beleza. Os constantes esforços para a diminuir demonstram que ela coloca um limite à crítica. Julgo, por isso, que é melhor pensar a beleza enquanto frivolidade. (...) Teorizar a beleza como frívola é, então, descrevê-la como aquilo por que não podemos passar a correr, a menos que esqueçamos que ela é o único elemento no nosso pensamento que se furta ao regime da definição ao qual se submetem alegremente todos os outros conceitos que conhecemos e usamos. (...)
A beleza teria, aliás, de ser frívola para poder ser secular. Não vejo como poderia ela ser frívola antes de ser resgatada das garras da religião (...) e por essa razão proponho que pensemos a beleza não só como frivolidade mas como glamorosidade e não como bondade. (...)
As obras de arte para as quais é agradável olhar estão, contudo, sobrecarregadas com a obrigação de serem socialmente responsáveis. Por muito bonitas que sejam, serão consideradas como meros elementos por um discurso em última análiose moral acerca do estado geral das coisas. (...)
Ao invés do transitivo, ela [a beleza] não exige qualquer objecto que a active. A sua completude é função de uma ausência de carência, e aqui reside a chave da sua frívola independência em relação ao discurso. (...)
(...) a frívola indiferença da beleza perante a razão propõe um modelo melhor para a subversão - cultual, histórica, epistemológica, epistémica - do que as inversões das imagens de poder que, como sublinhou Derrida, conservam no cerne do pensamento o que tentam abolir. Aí reside a relevância da irrelevância da beleza e o poder da sua impotência. (...)
"Beleza", Jeremy Gilbert-Rolfe
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