Histórias improváveis
Este é o nome do livro da Angela (Leite). A apresentação correu muito bem e, ao contrário do que supunha, acabou por ser super-familiar:))) E num espaço bem bonito e igualmente simpático, o Clube Literário do Porto.
O livro lá vai fazendo o seu caminho. A Angela estava muito contente com uma carta que tinha recebido do Marcelo Rebelo de Sousa e sei que já a referenciou num programa de TV também:) Merece. Também já sei que há um dramaturgo que quer adaptar alguns textos. Tenho a certeza que muito mais feed-back surgirá porque é um livro realmente invulgar.
Encontram-no na Fnac no espaço de prosa poética.
Este era o texto que poderia ter sido o da apresentação, mas que acabou por ser preterido em favor duma cumplicidade oral mais calorosa:) :
Ousar fazer falar outros sofrimentos/sofrimentos outros
Mais do que qualquer outra experiência humana, os sofrimentos são gritos mudos, estridências silenciosas.
Desafiar literariamente a mudez desses gritos, re-interpretar essa mudez, é completamente diferente de pressupor que existe, garantido à partida, um idioma do sofrimento, do qual alguns seriam melhores intérpretes do que os outros, sendo esses tradutores eleitos os médicos.
É também completamente diferente de pressupor uma qualquer correspondência entre um idioma exterior e uma verdade interior, biológica, do corpo orgânico. Desde logo porque a linguagem do sofrimento não pode ser nunca vista como a linguagem duma verdade meramente individual, do corpo individual, ou da personalidade.
Daí que re-interpretar a mudez desse grito seja re-interpretar os sofrimentos duma dada sociedade, fazendo-os falar de um outro modo. O que não deixa de ser um projecto ousado numa sociedade, medicalizada e farmacologizada, onde se afasta sistematicamente qualquer discorrer heterodoxo do sofrimento.
Daí que este livro não seja fácil, nem para o leitor e decerto nem para a Angela, mas seja urgente. Porque o sofrimento que faz falar é o sofrimento de todos nós, é a conquista de um espaço de invenção de todos nós – um espaço mais humano, um espaço habitável por um maior número de seres humanos, um espaço que possibilita o reconhecimento do sofrimento de um maior número de seres humanos.
E que mais se pode pedir a alguém do que criar as condições para o reconhecimento da especificidade de outras vidas humanas, de outros sofrimentos, de outras alegrias?
Pela autenticidade nesta tarefa muito agradeço à Angela. Pela possibilidade institucional, pública, desta edição, agradeço à editora Pena Perfeita.
Cabe-nos agora, a todos nós, ler e aproveitar o desafio e o novo espaço que este livro oferece. Em diálogo com a nossa mudez, tenhamos coragem de ler então.
Mais do que qualquer outra experiência humana, os sofrimentos são gritos mudos, estridências silenciosas.
Desafiar literariamente a mudez desses gritos, re-interpretar essa mudez, é completamente diferente de pressupor que existe, garantido à partida, um idioma do sofrimento, do qual alguns seriam melhores intérpretes do que os outros, sendo esses tradutores eleitos os médicos.
É também completamente diferente de pressupor uma qualquer correspondência entre um idioma exterior e uma verdade interior, biológica, do corpo orgânico. Desde logo porque a linguagem do sofrimento não pode ser nunca vista como a linguagem duma verdade meramente individual, do corpo individual, ou da personalidade.
Daí que re-interpretar a mudez desse grito seja re-interpretar os sofrimentos duma dada sociedade, fazendo-os falar de um outro modo. O que não deixa de ser um projecto ousado numa sociedade, medicalizada e farmacologizada, onde se afasta sistematicamente qualquer discorrer heterodoxo do sofrimento.
Daí que este livro não seja fácil, nem para o leitor e decerto nem para a Angela, mas seja urgente. Porque o sofrimento que faz falar é o sofrimento de todos nós, é a conquista de um espaço de invenção de todos nós – um espaço mais humano, um espaço habitável por um maior número de seres humanos, um espaço que possibilita o reconhecimento do sofrimento de um maior número de seres humanos.
E que mais se pode pedir a alguém do que criar as condições para o reconhecimento da especificidade de outras vidas humanas, de outros sofrimentos, de outras alegrias?
Pela autenticidade nesta tarefa muito agradeço à Angela. Pela possibilidade institucional, pública, desta edição, agradeço à editora Pena Perfeita.
Cabe-nos agora, a todos nós, ler e aproveitar o desafio e o novo espaço que este livro oferece. Em diálogo com a nossa mudez, tenhamos coragem de ler então.
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