Gonçalo M. Tavares
"Jerusalém" e "Histórias Falsas" foi o que li até hoje. No último o autor refere qualquer coisa como desejar "exercer um ligeiro desvio do olhar em relação à linha central da história da filosofia", o que é de facto mais expressamente visível nas Histórias.
Mas em Jerusalém temos as personagens em diálogo com a dor em Wittgenstein, o horror em Arendt, a saúde e o poder em Nietzsche (é mais um ligeiro desvio do olhar em relação aos grandes temas negros - daí estes serem "livros pretos" - da filosofia contemporânea). Mas não se assustem. Tudo isto sem qualquer referência explícita à filosofia e deixando total liberdade literária ao desenvolvimento da personagem (que não são irritantes tipos filosóficos). Resumindo, os livros são muito interessantes, por vezes brilhantes, mas não totalmente perceptíveis (o que é sempre bom:). Sobre a escrita terei provavelmente que ler outros - ela é talvez demasiado precisa e rigorosa nestes livros; não foge ao autor. Mas não deixa de ser literária e não filosófica - talvez porque os personagens vão fugindo.
Independentemente de se gostar muito ou muitíssimo dos seus livros M. Tavares é um exemplo do que se deve fazer para tentar escrever hoje - como ele diz, ler, ler muito, e escrever sempre, provavelmente em volta do que se lê. Só quando se leu determinados livros/autores se pode estar à altura de os eleger como interlocutores. E M. Tavares realmente leu e está à altura de nos dar esse prazer.
Fiquei curiosa sobre uma coisa: M. Tavares inscreve-se no espaço público imediatamente como escritor e nada se sabe da sua formação académica. Línguas e Literatura, Filosofia? Talvez a sua formação académica seja precisamente tudo o que tão bem leu...
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home