Blog duma gaja... bem... esquisita, estranha, tarada:) Enfim... queer!

8.16.2006

Privilégios epistemológicos

Já aqui referi qual é a tese principal do livro A História da Vagina. Mas há outra reflexão igualmente importante, e até mais fundamental para nós lésbicas. Trata-se da forma como, ao longo dos séculos, o conhecimento sobre a constituição do clítoris foi retomado e sucessivamente invisibilizado pela medicina.
De que constituição falamos? Duma que ainda hoje é desconhecida de muitos e que deveria ser ensinada nas aulas de educação sexual. Assim, se imaginarmos uma mulher em pé, o clítoris é um ógão em forma de Y na horizontal, em que a ponta de baixo do Y é a zona perceptível ao tacto no exterior e os bracinhos são zonas mais carnudas que envolvem a parte superior da vagina, grosso modo (o que explica a famosa localização do ponto G).
E porquê esta invisibilização, esta recusa em formar e transmitir conhecimento? Em primeiro lugar porque seria reconhecer e explorar o campo do prazer feminino. Mas em segundo lugar, e este aspecto não é referido no livro, trata-se de um conhecimento que acaba de vez com a famosa dicotomia orgasmo clitoridiano/orgasmo vaginal, e consequentes hierarquizações de mulheres de primeira e de segunda (sendo que as de primeira seriam aquelas que atingiriam orgasmos exclusivamente vaginais, habitualmente por penetração peniana - o que dava muito jeito ao ego masculino...); muitas vezes as lésbicas foram identificadas com mulheres de segunda neste sentido (num reducionismo das nossas práticas sexuais mas não é isso que está em causa; o que está em causa é que era um argumento de secundarização da nossa sexualidade e feminilidade). Ora, esta constituição clitoridiana mostra bem que esta separação é falsa e que esta discernibilidade não existe no nosso corpo.
E a divulgação deste conhecimento é talvez a coisa mais útil deste livro, para todos.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esse apagamento é deveras irritante. Há um par de anos meti-me à procura de uma imagem da fisiologia da coisa e só num site L consegui obter uma ilustração "membro" . Por muito que procurasse, na ilustrações "científicas" aparecia o aparelho reprodutivo todinho, mas o clit era uma espécie de botão de plasticina á superfície. E é que eu precisava mesmo de saber! É um Y! louvado seja!

18:10

 

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