Ler Sade
Projecto sucessivamente adiado e agora empreendido. Particularmente interessada nas suas teses filosóficas, nomeadamente a defesa da naturalidade do mal ou vício, nomeadamente na sua maior capacidade de excitação dos espíritos animais em nós, pois que o bem e o belo, por demasiado simples (é este literalmente o argumento, que tenho muita curiosidade em perceber), não possuem tal eficácia. Nos "120 dias de Sodoma" parece até que o bem e o belo só são despoletadores de paixões pelo contraste com o mal e o feio/sujo, sendo que sozinhos de pouco valem, neste aspecto. Aliás, a prática do bem é totalmente ridicularizada porque inútil (ao corpo e à alma, mesmo à sua salvação), sendo que o bem social é visto como inexistente uma vez que não há contrato social e os mais poderosos se gerem afinal descomplexadamente pelos seus próprios prazeres (no que antecipa Nietzsche), dessa forma pulverizando qualquer imaginário ou desejável corpo social.
Outro aspecto curioso é a valorização do luxo e da artificialidade dos cenários, que denota a necessidade duma grande racionalização prévia à experimentação da lubricidade mais gratificante.
Curioso também é o facto da narração ou do prazer auditivo, ser anterior e fundamento de todas as outras paixões (todas as sesicentas paixões do livro são narradas por quatro historiadoras), que se inflamam por narradas/imaginadas.
A valorização da analidade (alheada da orientação sexual) e da diversidade de práticas e de parceiros são outros aspectos ainda hoje refrescantes.
A tipologização do criminoso violento que retira prazer sexual dos seus crimes (e que representa o extremo da sua tipologia de paixões suscitadas pelo mal) é também fina e detalhada, muito para lá de qualquer caracterização do serial killer das séries televisivas, ou até de O silêncio dos inocentes.
Outro aspecto curioso é a valorização do luxo e da artificialidade dos cenários, que denota a necessidade duma grande racionalização prévia à experimentação da lubricidade mais gratificante.
Curioso também é o facto da narração ou do prazer auditivo, ser anterior e fundamento de todas as outras paixões (todas as sesicentas paixões do livro são narradas por quatro historiadoras), que se inflamam por narradas/imaginadas.
A valorização da analidade (alheada da orientação sexual) e da diversidade de práticas e de parceiros são outros aspectos ainda hoje refrescantes.
A tipologização do criminoso violento que retira prazer sexual dos seus crimes (e que representa o extremo da sua tipologia de paixões suscitadas pelo mal) é também fina e detalhada, muito para lá de qualquer caracterização do serial killer das séries televisivas, ou até de O silêncio dos inocentes.
Enfim, as surpresas do costume quando se pega num autor himself...
2 Comments:
Pois é, a Psicanálise foi buscar o seu nome para classificar um certo prazer que afinal Sade tão bem soube desnudar. Mas ele não é apenas o criador de Sodoma, que escreveu na cadeia. Recomendo vivamente a leitura de "Florville e Courval ou o Fatalismo": pungente.
04:20
Nota tomada, obrigada.
11:34
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