Documenta 12
Em primeiro lugar de salientar aquela que me pareceu ser a tensão fundamental da exposição: o contraste entre o valor artístico da investigação formal das obras (que nunca é tão abstracto e tão desprovido de sentido narrativo quanto pode parecer a um olho culturalmente ignorante e/ou etnocentricamente localizado), o contraste entre este valor formal, dizia, e o valor da intervenção social e política das obras (que também tem as suas próprias linguagens formais, com determinado valor artístico, assim como emotividade, sendo estes dois aspectos indescerníveis).
A afirmação de que a relação com os objectos concretos, a relação dos sentidos com os objectos, ou seja, a relação propriamente estética com o mundo, é uma relação de indescernibilidade entre o formal e o histórico-político, e nesta mesma experiência, entre o emocional e o teórico, é central nesta exposição.
Vou salientar alguns trabalhos, pela enfatização da contemporaneidade de uma prática queer:
- de um ponto de vista mais abrangente, nem sempre traduzido de forma imediata nos conteúdos temáticos das obras, mas sem deixar de estar subtilmente presente, saliento a quantidade de trabalhos de Juan Davila ( as suas trans-figurações sexuais, étnicas e culturais presentes na figura de uma nova subjectividade andina, além de muitas subversões homoeróticas; nos trabalhos mais recentes as interrupções fálicas nas paisagens e nos abstractos clássicos);
- as inúmeras obras de Kerry James Marshall (pela quotidianeidade e sensualidade da negritude, mas também enquanto desafio aos cânones: ver quadro da figura negra sobre fundo negro);
- na forma como salienta a normatividade e os constrangimentos a que está sujeita a mobilidade corporal, a performance de Trisha Brown, em que os corpos se deslocam de camisa-de-forças em camisa-de-forças ao longo de um quadriculado de cordas suspenso a metro e meio do solo:
Já de uma forma mais explícita, vou referir o feminismo queer de alguns trabalhos:
- os bordados feitos com cabelo de Hu Xiaoyuan, única artista chinesa mulher presente, figurando tanto genitais femininos quanto temas líricos clássicos:
- os bordados feitos com cabelo de Hu Xiaoyuan, única artista chinesa mulher presente, figurando tanto genitais femininos quanto temas líricos clássicos:
- a casa/narrativa biográfica feminista/queer de Mary Keller (para quem o feminismo é literalmente a sua casa):
- as composições exuberantes de Ines Doujak, onde sobre um fundo floral de papel de parede do séc XIX, e dentro de uma moldura também ela floralmente exuberante, encontramos fotografias de personagens excêntricas, como por ex.:
- por fim, o vídeo de Hito Steyerl, Lovely Andrea, em que se reflecte política, erótica e espiritualmente sobre o valor do bondage de submissão com cordas asiático, assim como da auto-suspensão.
1 Comments:
Epá, tanta cultura para descobrir!
13:52
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