Blog duma gaja... bem... esquisita, estranha, tarada:) Enfim... queer!

9.10.2007

Skulptur Projekte 07

O que mais intriga nesta exposição de escultura numa primeira vista é que muitas das obras não são facilmente localizáveis. O consumidor tradicional de escultura vai a Münster, pensando que vai passar um belo dia a passear e a deparar-se com belas obras ao virar da esquina e, frequentemente, elas não estão lá, ou não são imediatamente visíveis. As razões da escolha por obras com estas caracterísitcas são as razões políticas/urbanas mais interessantes desta exposição.
Conforme explicam os curadores em texto introdutório do catálogo (que é também um magnífico glossário de termos relativos a esta nova escultura), a escultura enquanto género artístico de intervenção crítica no espaço público foi totalmente apropriada, assim como esse mesmo espaço público no centro das cidades, pelo marketing e operações de charme de grandes companhias, condomínios fechados e forças partidárias na gestão de autarquias. A própria exposição virou marketing de Münster. A des-publicação do espaço, a sua privatização, faz com que a própria questão da função da arte no espaço público tenha de ser reformulada.
A questão a que os curadores tentaram responder foi a de como manter o potencial oposicional da arte. A resposta centra-se numa forte aposta na autonomia e valor intrínseco da arte, na forma como ela cria o seu próprio espaço (uma esfera contra-pública num espaço público que não é uma partilha mas uma arena de práticas comunicativas em competição). Diríamos que tanto mais assim quanto mais resiste à apropriação pelos interesses de privatização já referidos. Daí a aposta em obras em projecto, itenerantes, perecíveis, quase invisíveis, obras que decerto nenhum banco vai querer encomendar ou comprar para "oferecer" à cidade.
Enquanto visão crítica do espaço público urbano e enquanto localizada em Münster, esta exposição é assumidamente mais eurocêntrica do que a Documenta.
Existem muitas peças de citação irónica de peças de anteriores Skulptur Projekte mas realmente as mais fortes são as tais inapropriáveis. Vou referir algumas, não só pela sua força política como também pela sua força poética (que, mais uma vez, se misturam).
- o caminho campestre que não leva a lado nenhum (bastante heideggeriano, hein?:) de Pawel Althamer
- a violência infantil frente à Igreja por Isa Genzken; não tão poético quanto as suas molduras de janela a enquadrar o céu mas forte
- as pedras espalhadas de Gustav Metzger
- a zona imperceptível de Mark Wallinger
- o pedinte de Dora García
E provavelmente outras, de formas que ainda descobrirei atentando melhor no catálogo.
Aspectos queer? A performance teatral de Michael Elmgreen & Ingar Dragset, "Drama Queens", em que as personagens são peças escultóricas famosas:)
Estes dois últimos exemplos dizem respeito a performances teatrais, género que não esperava ver neste tipo de exposição, e do qual vi ainda, dos mesmos autores, "Have you come here to ask for forgiveness", na Made in Germany, em que um homem, à entrada da exposição, descia dum pequeno pedestal branco e entregava um pequeno cartão de visita a cada visitante onde estava frase estava escrita:)