Blog duma gaja... bem... esquisita, estranha, tarada:) Enfim... queer!

7.30.2007

Natalidade e o tabu da miscigenação

De que forma se pode/deve reproduzir uma cultura e uma Nação? É esta a questão sensível por detrás de todas as excitações sobre a quebra de natalidade europeia e portuguesa, uma vez que se tende a biologizar a resposta a essa questão, colocando a natalidade e as crianças no centro de todas as ansiedades e fobias contra a miscigenação.
No mundo global em que vivemos não há problemas de natalidade, pelo contrário. No mundo global em que vivemos a sobrevivência e competitividade enquanto cultura e Nação passam por uma relação inteligente com a diversidade e a miscigenação, e não por uma fuga e fechamento.
Se quisermos limitar a questão, muito artificialmente, ao nascimento de crianças de pais portugueses, basta comparar para se perceber que em períodos de prosperidade económica há mais nascimentos e que em períodos de precariedade laboral e ausência de infra-estruturas de apoio, há menos. E que, graças ao desenvolver das expectativas da qualidade de vida, já ninguém quer viver em sacríficio para ter filhos. A maternidade deixou de ser uma obrigação sacrificial, por mais que isso custe à religião católica, e ainda bem. Hoje, as mulheres exigem condições para optarem ser mães.
Daí que só em culturas onde essas exigências são inferiores e onde as próprias crianças contribuem, infelizmente, para a sobrevivência dos pais, e onde há pouco planeamento familiar, a natalidade continue pujante. Se há uma portugalidade inteligente, ela deve estar cá para as acolher, para o bem e o futuro sustentável de todos.

Consensualizar... às vezes

Há cerca de um mês escrevi um post sobre a primeira capa da revista gay Zero espanhola atribuída a um dirigente de direita, e em plena campanha autárquica. As repercurssões desta escolha fizeram-se sentir no número seguinte, o de Junho: afastaram-se colaboradores, cancelaram subscrições leitores, choveram críticas e alguns aplausos. Foi decerto a maior convulsão interna alguma vez sofrida pela Zero. As razões da revolta resumiam-se ao seguinte: seria inadmissível dar a capa a um partido, o PP, até hoje o principal inimigo partidário dos lgbt espanhóis, ainda por cima em campanha, e ainda por cima sem o confrontar directamente com o seu discurso discriminatório. As justificações resumiam-se ao seguinte: sem mascarar as limitações do discurso do PP, mostrar que existem questões a respeito das quais é possível haver uma plataforma larga de entendimento, fazendo para isso uso dum político de direita mais gayfriendly que o habitual. A revista lamenta, no entanto, não ter colocado ao lado da entrevista o historial discriminatório do PP.
Quanto a mim, sou fortemente a favor de que existam fóruns, associativos, mediáticos, onde se possa realizar pontualmente a segunda abordagem; para a primeira estamos cá todos os dias.

7.29.2007

Por casa

Estrellas de la linea é um interessante e comovente filme/documentário que narra o percurso de uma equipa de futebol de prostitutas guatemaltecas e a forma como através dessa prática foi possível combater a discriminação e solidificar as relações e a auto-estima.

7.26.2007

Tão felizes juntos:)

É um blog que dá gosto, de bonito, sensível, variado e inteligente. É do Paulo e do seu Zé, muito felizes juntinhos!:)

Fora de tempo

Há cerca de um mês instalei o Google Reader no meu iGoogle, o que me tem permitido acompanhar melhor e em menos tempo a postagem numa série de blogs a respeito dos quais tinha curiosidade. Ainda estou a filtrá-los, de acordo com a minha relação qualidade-tempo, e penso que sempre estarei, mas já dá para reflectir sobre alguns aspectos curiosos.
Um deles tem a ver com a agenda de esquerda na blogoesfera, que tenho tentado perceber como se forma - para a tentar de alguma forma influenciar, é claro, não o vou negar. Eu também tenho a minha própria agenda, com tudo o que de esquizo, mas ingenuamente determinado, isso tem:) e não tenho um blog só para me entreter (se calhar devia, mas enfim... tiques voluntaristas:).
Um dos aspectos que me chamaram a atenção é a forma como (talvez) as minorias tendem a dar menos atenção a posições extremadas que aparecem, e até a ter uma visão mais equilibrada delas, no que de positivo e negativo possam ter, do que pessoas que estão mais dentro do sistema e, ponto importante, estão habituadas a fazer agenda e fazem-na efectivamente.
Um exemplo disto foi a posição relativamente branda e tardia de Vale de Almeida face aos disparates de Patrícia Lanza, quando comparada com a luta que lhe deram muitos e, principalmente, com a forma como a selecionaram como alvo e nisso persistiram.
É tido por sabido, no meio académico, que se pegamos em posições muito distintas das nossas é mais fácil insistir num preto e branco e ter a percepção de que há efectivamente uma distinção das águas. Na luta política também é assim. E no agendamento jornalístico também.
É de certeza uma grande ingenuidade minha, e talvez seja isto o que chamam de activismo académico, mas eu prefiro um ataque de segunda linha, aquele que chega aos factos depois duma visão teórica complexa das coisas, visão essa muito pouco jornalística, agendável e até muito pouco blogueira (pelo menos por cá). E que corre o risco de se perder em ideias entretanto - o que não é grave porque é apenas uma forma de estar fora de tempo (ou da agenda, é como quiserem). Mas esse é o risco que mais vale a pena, não é?
[a propósito de posts longos, chatos, e nem sempre bem escritos, como o do Hardt e Negri abaixo, disponíveis só em meia dúzia de blogs tontos]

7.20.2007

Tarantino

Teria de o ver uma segunda vez para confirmar o seguinte: que o filme, a própria câmara, divide o filme em duas partes. Na primeira as mulheres são vítimas, nomeadamente do olhar, e também do olhar da câmara (veja-se a quantidade de imagens de cus...); na segunda são agentes, no mínimo da acção (e teria de ver uma segunda vez para confirmar até que ponto é seu o olhar).
Este é um filme em que não faz mesmo nenhum sentido dizer "feminismos à parte, reparem ainda em...". Tal como no último Lynch, o feminismo está lá por todo o lado. Mas, se insistirem em serem ceguinhos, podem ainda delirar com os carros (lindos!!!!), os cus (curiosamente não tão jovens mas interessantes), as private/tarantino jokes, o próprio Tarantino (feiinho, tadinho:), e a transformação dum assassino num medricas:))). E a música, e as juke box, e o guarda-roupa, etc, etc.
Mas não subam demais as expectativas; os últimos eram de facto melhores - que é feito do cinema asiático neste?

7.19.2007

"Império", Hardt e Negri

O livro é de difícil leitura porque implica, enquanto projecto filosófico, a obsessão em recuperar materialisticamente determinados termos da metafísica tradicional, que apelidam de burguesa. Muitas vezes parece ser este projecto, e não o político, o principal objectivo.

Mas vejamos então. Os autores chamam Império a uma lógica de governo único e sistémico, uma ordem totalitária que, duma forma desterritorializante e descentralizada, exerce soberania. E que, como todas as ordens normativas, se reforça a si própria no mero uso (ou seja, na convicção de que, pela paz, tem de ser assim; é necessária uma ordem supra-nacional). Uma vez que a sua necessidade se impõe na crise, no conflito, é na crise que melhor se afirma, ou seja, alimenta-se da sua própria crise.

A lógica total do Império parece obrigar a que qualquer resistência tenha de ser interior (os autores nunca referem qualquer alternativa institucional global a esta soberania global) e trabalhe por implosão.

“O meio de superar a crise é o deslocamento ontológico do sujeito.” (418). Este deslocamento é possível quando esse sujeito, a multidão, se apercebe de que é ele que alimenta a normatividade imperial e que ela é nada sem a prática da multidão, sem a vida da multidão (daí o uso do termo ontologia, aqui usado num sentido de orientação da energia produtora vital – é a tentativa de realizar uma viragem materialista na metafísica, fugindo a uma “metafísica burguesa”, 421).

“As forças científicas, afectivas e linguísticas da multidão transformam agressivamente as condições da produção social. O campo onde a multidão se reapropria das forças produtivas é um campo de metamorfoses radicais - o cenário de uma operação demiúrgica. Esta consiste, antes do mais, numa revisão completa da produção da subjectividade cooperativa; consiste, dito de outro modo, num acto de fusão e hibridização com as máquinas reapropriadas e reinventadas pela multidão; consiste, portanto, num êxodo que não é apenas espacial, mas também mecânico, no sentido em que o sujeito se transforma numa máquina (e descobre que a cooperação que o constitui se multiplica nela). Trata-se de uma nova forma de êxodo, um êxodo a caminho da (ou com a) máquina - um êxodo maquínico.”, p. 400/401

É esta relação directa, não mediatizada, entre a lógica imperial e as subjectividades que torna possível um movimento de contra-Império pontual (que não meramente local), mas propagável, um acontecimento (que bebe da potencialidade produtora, geradora, da multidão, da sua abertura ontológica). O deslocamento ontológico do sujeito consiste assim na reapropriação para os seus próprios fins (os seus próprios projectos constituintes) do poder gerador da multidão e na luta contra a corrupção dessa geração (a nova luta contra a alienação, a nova teleologia materialista – nota: alienação é um termo que os autores não usam mas a que parece substituir-se o termo metafísico corrupção).

Qual é então a lógica deste acontecimento?

“Tal é, decerto, um dos paradoxos políticos mais decisivos e mais prementes do nosso tempo: na nossa época de tão apregoada comunicação, as lutas tornaram-se incomunicáveis.
Este paradoxo da incomunicabilidade torna extremamente difícil a compreensão e a expressão do novo poder afirmado pelas lutas que emergiram. Deveríamos ser capazes de reconhecer que as lutas ganharam em intensidade o que perderam em extensão, em duração e em comunicabilidade. Deveríamos ser capazes de reconhecer que, embora todas as lutas em causa se tenham centrado nas suas próprias circunstâncias locais e imediatas, nem por isso puseram menos problemas de importância supranacional, problemas que são característicos da nova configuração da regulação capitalista imperial.”, p. 74
“Talvez seja precisamente pelo facto de estas lutas serem incomunicáveis, proibidas de se deslocarem horizontalmente sob a forma de um ciclo, que se vêem forçadas a ressaltar verticalmente e a assumir imediatamente o nível global.
Deveríamos ser capazes de compreender que não estamos perante a emergência de um novo ciclo de lutas internacionalistas, mas sobretudo perante a emergência de uma nova qualidade de movimentos sociais. Por outras palavras, deveríamos ser capazes de reconhecer as características fundamentalmente novas que, apesar da sua radical diversidade, todas estas lutas apresentam.
Em primeiro lugar, cada luta, ainda que firmemente implantada nas condições locais, passa imediatamente ao nível global e ataca a constituição do Império na sua generalidade. Em segundo lugar, todas estas lutas arruinam a distinção tradicional entre conflitos económicos e conflitos políticos. São, ao mesmo tempo, económicas, políticas e culturais - são, por conseguinte, lutas biopolíticas, lutas em torno da forma da vida. São também lutas constituintes, criando novos espaços públicos e formas novas de comunidade.”, p. 76. É esta (...) a multidão [que] terá de inventar novas formas democráticas e um novo poder constituinte (...)”, p.16.

É na estratégia de luta a adoptar para maximizar o potencial das lutas/acontecimentos destes novos movimentos sociais que mais dúvidas se levantam:

“Podemos identificar com segurança alguns dos obstáculos reais que bloqueiam a comunicação das lutas. Um desses obstáculos é a ausência de identificação de um inimigo comum contra o qual as lutas se dirijam. (...) Esclarecer a natureza do inimigo comum é assim uma tarefa política fundamental. Um segundo obstáculo, que é na realidade um corolário do primeiro, é não haver linguagem comum aos conflitos capaz de «traduzir» a linguagem particular de cada um deles numa linguagem cosmopolita. (...) O que sugere uma outra tarefa política importante: construir uma nova linguagem comum que facilite a comunicação como o faziam os códigos do anti-imperialismo e do internacionalismo proletário relativamente às lutas da época anterior. A tarefa talvez requeira um novo tipo de comunicação que funcione não na base das semelhanças mas na das diferenças: uma espécie de comunicação das singularidades.
Identificar um inimigo comum e inventar uma linguagem comum aos conflitos são decerto tarefas políticas importantes e levá-las-emos tão longe quanto possível neste livro, mas a nossa intuição diz-nos que esta linha de acção acaba por falhar no que se refere à apreensão do potencial real oferecido pelos novos conflitos. Por outras palavras, a nossa intuição sugere-nos que o modelo da articulação horizontal das lutas no interior de um ciclo deixa de ser adequado quando se trata de reconhecer a via na qual os conflitos contemporâneos adquirem uma significação e uma importância globais. É um modelo que, de facto, nos torna cegos ao novo potencial daqueles.(...) Talvez a incomunicabilidade das lutas, a ausência de galerias comunicantes bem estruturadas, seja, na realidade, mais uma força que uma fraqueza: uma força porque todos os movimentos são imediatamente subversivos em si próprios e não ficam à espera de qualquer auxílio ou extensão exterior que garanta a sua eficácia. Quanto mais o capital estende as suas redes globais de produção mais poderosos se torna – talvez? – cada um dos pontos particulares de revolta.” p. 78.

Um elemento importante nesta estratégia de luta parece ser a velocidade (da mesma forma que a aceleração da normatividade imperial é uma das suas características diferenciadoras dos Impérios tradicionais):

“Deste ponto de vista, o quadro institucional em que vivemos é caracterizado por uma contingência e por uma precariedade radicais, quer dizer, pela imprevisibilidade das sequências de acontecimentos - sequências que são sempre mais breves ou temporalmente mais compactas e, por isso, ainda menos controláveis. Torna-se cada vez mais difícil para o Império intervir nas sequências temporais imprevisíveis dos aconteci­mentos, quando o andamento destas se acelera. O aspecto mais interessante que as lutas revelaram talvez resida nas acelerações súbitas, com frequência cumulativas, e que virtualmente se podem tornar simultâneas, explosões que manifestam então um poder propriamente ontológico e configuram um ataque imprevisível ao equilíbrio mais fundamental do Império.”, p. 81.

Que programa político parece ser o mais eficaz então? Aquele que se apoie nas categorias do nomadismo e da mestiçagem.

“(...) O espaço que pode meramente ser atravessado deve transformar-se num espaço de vida; a circulação tem de tornar-se liberdade. Por outras palavras, a multidão móvel deve chegar a uma cidadania global. (...) O nomadismo e a miscigenação surgem aqui como figuras da virtude, como as primeiras práticas éticas no terreno do Império. Nesta perspectiva, o espaço objectivo da globalização capitalista soçobra. Só um espaço animado pela circulação subjectiva e só um espaço definido pelos movimentos irreprimíveis (legais ou clandestinos) dos indivíduos e dos grupos pode ser real. As celebrações actuais do local podem ser regressivas e até mesmo fascistas, quando opõem circulações e mistura, reforçando assim os muros da nação, da etnicidade, da raça, do povo, e outras entidades semelhantes. Todavia, o conceito de local não é necessariamente definido pelo isolamento e pela pureza. De facto, se derrubarmos os muros que cercam o local (e separarmos, portanto, o seu conceito da raça, da religião, da etnicidade, da nação e do povo), podemos fazê-lo comunicar directamente com o universal. O universal concreto é aquilo que permite à multidão passar de lugar em lugar e tornar cada lugar o seu próprio lugar. Tal é o lugar-comum do nomadismo e da mestiçagem. É através da circulação que se compõe a espécie humana comum, Orfeu de múltiplas cores e de um poder infinito: é através da circulação que é constituída a comunidade humana. Fora de qualquer nuvem das Luzes ou de qualquer fantasia desperta kantiana, o desejo da multidão não é o Estado cosmopolita, mas uma espécie comum. Como num Pentecostes secular, os corpos misturam-se e os nómadas falam uma língua comum.”, p. 397
“A emancipação é a entrada de novas nações e novos povos na sociedade imperial de controlo (...); a libertação, em contrapartida, significa a destruição das fronteiras e modalidades estabelecidas de migração forçada, a reapropriação do espaço e o poder por parte da multidão de determinar a circulação global e a mistura dos indivíduos e das populações.”, p. 397.
“O poder de circular é uma determinação fundamental da virtualidade da multidão (...)”, p. 398.
“A circulação é um êxodo global ou, se quisermos, um nomadismo; e é também um êxodo corporal ou, se quisermos, miscigenação.”, p. 398.
“É viajando e expressando-se através de um aparelho de reapropriação territorial, difusa e transversal, que a multidão conquista o poder de afirmar a sua autonomia.”, p. 433.

“O que, apesar de tudo, podemos já observar é um primeiro elemento de um programa político para a multidão global, uma primeira exigência política: a cidadania global. Durante as manifestações de 1996, em Paris, em defesa dos sans papiers, dos estrangeiros sem documentos residentes em França, as palavras de ordem reclamavam: Papiers pour tous! Os documentos para todos e a legalização de todos os residentes significam, antes do mais, que todos devem gozar de direitos de cidadania completos no país onde vivem e trabalham.”, p. 435.
“O direito geral de controlo sobre os seus próprios movimentos é a exigência última da multidão em matéria de cidadania global.”, p. 436.“Esta generalidade da produção biopolítica torna clara uma segunda exigência política programática da multidão: um salário social e um rendimento garantido para todos.”, p. 438.

7.17.2007

Que materialismo afinal?

Taxidermia é um filme duma coerência notável porque é uma obra de arte em que a linguagem estética se harmoniza completamente com a mensagem: utilizando uma estética visceral, dirty e patética fala-nos da evolução duma família, geração após geração, na relação precisamente com a materialidade, nomeadamente corpórea, visceral, dirty e patética, desde a figura inicial do défice de acesso a quase tudo, até ao vazio interior/visceral do economicamente bem sucedido taxidermista/classificador/trabalhador do simbólico, passando pela figura intermédia do excesso de consumo. Há quem diga que é também a história da Hungria - e talvez também a de muitos países em vias de desenvolvimento; muito a nossa história também afinal.

7.15.2007

Obrigada companheiro

Despediste-te hoje vítima duma luta contra uma doença desleal e mesquinha e esta é uma forma de dizer que foste maior do que ela e que ela não te merece e não te guardará. Para mim, e para outros mais próximos do que eu, serás sempre um lutador destemido e determinado, o homem graças a quem tivemos em Portugal o primeiro contrato colectivo de trabalho numa empresa privada em que se respeitaram os direitos de todos os unidos de facto, homossexuais incluídos. Hoje, muitos não saberão, mas é com orgulho que esta bandeira arco-íris cobre o teu caixão. Obrigada M.

7.07.2007

Por casa

Spider Lilies, vencedor do Teddy deste ano, é um filme lésbico poético e faz uma reflexão interessante sobre formas de inscrição no corpo (de acontecimentos, memórias, tatuagens, etc) real e virtual (uma das personagens é uma web-girl, uma prostituta-web).
No entanto, do ponto de vista duma análise crítica das sexualidades, levanta uma questão delicada, que brevemente estará por todo o lado: se as crianças estão a apaixonar-se cada vez mais cedo, não se apaixonarão também por adultos? Em que forma é essa paixão diferente daquelas que sempre relataram (mesmo antes desta época de invasão das crianças pelas práticas comunicacionais, nomeadamente amorosas, adultas)? Independentemente da concretização sexual (homo/hetero) dessas paixões, enquanto paixões, inscrevem-se de forma diferente das paixões adultas?
No filme a concretização sexual da relação só é apresentada na adolescência da personagem, mas não é claro quando terá começado. E perdura (muito à volta dum imaginário da estudante adolescente asiática). O que levanta a questão altamente incómoda e proibida de a partir de quando e em que circunstâncias é um amor sexual entre uma criança e um adulto/adolescente tolerável?
Curiosamente, os quadros conceptuais da pedofilia alterar-se-ão, não por força dos pedófilos (como aconteceu com as associações gays men-boy love), mas por força da evolução das próprias crianças...

7.05.2007

Importante inquérito

da União Europeia quanto ao nível de protecção contra a discriminação.

7.04.2007

Boa!

Isto é que eu chamo uma vitória! Parabéns, em especial à Não Te Prives!
(e aqui teríamos de falar do que falta em baixo: onde anda a luta feminista nos activismos lgbt em Portugal?)

Uma conversa (felizmente) interminável

Finalmente nos nossos movimentos lgbt surgem explicitamente tensões ideológicas, políticas, claras, que na minha perspectiva não são meramente partidárias. Elas são bem visíveis em duas leituras que encontrei do EuroPride 2007 em Madrid:
- a leitura/actividades das Panteras ( e o manifesto do Bloque Alternativo)
- a leitura/actividades do Miguel e da Ilga
Essas leituras devem ainda ser confrontadas com leituras de cidadãos lgbt:
- a leitura/actividades da Blue
E com o activismo trans numa cidade mais alternativa, Barcelona:
- o Stef e as Panteras
Penso que estes são os elementos suficientes para continuarmos a reflectir sobre as estratégias e cidadanias lgbt em Portugal.
(a continuar)

7.02.2007

Tanto desperdício...

Fui ver a exposição dos 50 anos de arte portuguesa na Gulbenkian. Para lá de muita obra interessante e do seu cruzamento com textualidades igualmente interessantes, vim de lá impressionada com duas coisas: éramos "muita bons" no pós-25 de Abril, o que nos aconteceu?
Por outro lado, apoiando-me na datação que lá aparece, foi em 76 a última vez que uma instância governamental apoiou uma mostra de arte portuguesa numa grande capital das artes mundial?!!!