Blog duma gaja... bem... esquisita, estranha, tarada:) Enfim... queer!

5.31.2007

Cognitivamente iguaizinhos

São às dezenas os artigos e capas de revista em Portugal que, por ano, fazem manchetes quanto às diferenças biológicas, nomeadamente cerebrais, entre homens e mulheres. Como eu gostava que, para variar, se dessem ao trabalho de lerem coisas como esta.

5.29.2007

Direitos humanos são meras brincadeiras

Claramente em resposta a esta questão, e infelizmente confirmando a primazia do comércio sobre os direitos humanos na UE, Sócrates fez hoje declarações que apenas levam a concluir que os direitos humanos são meras brincadeiras de gente irresponsável quando comparados com as seriíssimas negociações comerciais. Estamos mesmo entregues a bichos...

Na Eira

Criatividade queer por . Que bom!

5.27.2007

Sábados no Maria Lisboa

Sim, era eu, a criatura muito pouco noctívaga, na party late night ontem, na minha primeria ida a este novo espaço. E tenho a dizer que acho que está ali muito mais em jogo do que pode parecer. E que muito me agradaria que a gerência tivesse essa noção, sem ter de prejudicar o negócio, o que é compreensível.
De facto, e no seguimento da Lesboa, parece que chegou finalmente a hora de Lisboa ter uma disco, moderna, arejada, com noites lésbicas fortes. Isto porque parece haver clientela suficiente para encher a casa, digamos de 3 em 3 semanas talvez, e depois vejamos se com mais frequência. Veja-se como começaram a grandes discos lésbicas madrilenas. E estes espaços, onde se reúne suficiente massa crítica e segurança, nunca são meras festas.
Por outro lado, fiquei desagradada com a ausência de sensibilidade/insinuação lésbica do show de bailarinas que vi (o das quatro); parece-me que não é difícil arranjar pessoas profissionais o suficiente, quer sejam ou não lésbicas, para agradar um pouco mais à sensibilidade lésbica da casa que, ontem, era seguramente de pelo menos 50%. Olhava para aquelas louras tenrinhas magrelas e pensava que preferia mil vezes uns pares ou trios lésbicos (não sei se aquela barra dá para mais), com look até bem menos heterocompulsivo, até bem menos profissionais, a encenar umas coreografias bem mais lésbicas:)
Deste meu desagrado penso ter dado conhecimento a quem de direito (a simpática dona do Lábios de Vinho), de quem aguardo uma leitura inteligente do contexto. Aproveito para elogiar os preços acessíveis (no contexto das discos lisboetas) e a honestidade, já marca do simpático bar no Bairro Alto, de não querer ganhar tudo numa noite.

Alternativas

Um dos pontos quentes da agenda lgbtq em Portugal tem sido o casamento, sintoma visível do aburguesamento do nosso movimento, pois que se trata acima de tudo de conseguir a igualdade simbólica de um dado estatuto social (que vai cada vez mais a par de estatutos sócio-económicos elevados, ver).
Nesse sentido, é sempre bom encontrar movilentos lgbtq alternativos, como este, que até secção poliamor tem:)

5.24.2007

Ainda M. Tavares

Na dúvida sobre se seria ou não o mesmo Walser fui ler também "O senhor Walser". Parece-me que não.
"O senhor Walser" é uma excelente crítica ao solipsismo idealista, à sua vontade de principiar, ao seu instinto de bela alma, ao seu afastamento do "dirty world".
Não é por acaso que o senhor Walser é o único do Bairro que mora numa casa à parte. E todo o livro se desenrola à volta da impossibilidade de um começo virgem, mesmo quando se tem uma casa aparentemente nova e à margem da desordem exterior.
A linguagem do livro é muito acessível e é um daqueles romances filosóficos recomendáveis a adolescentes.
Notável continua a ser a facilidade com que M. Tavares não só muda de género literário como muda a própria respiração da sua escrita: "agua, cão,..." é quase telegráfico; "A máquina de..." é mais distendido mas ainda assim contido para a frase/parágrafo/conto tradicional. Este "O senhor Walser" é tradicional na métrica da frase, apesar dos capítulos serem razoavelmente reduzidos. De comum sempre o rigor.

Tou fod....!

Depois de propagandas como esta (em que se comparam reformas de licenciado com reformas de pesoas com o 9º ano, em que não se clarifica que os valores são brutos e em que não se averigua se as pensões mencionadas são ou não o resultado de trabalho noutros cargos, esses sim chorudamente remunerados, como as autarquias...), hoje levo com esta! Salários congelados até 2011! Provavelmente mais 5% de perca de poder de compra a somar aos 15 dos últimos dez anos. E os juros a subir...
E a 4 de Junho abre o tal concurso para professor titular onde eu, por não ter idade suficiente, é suposto não puder pôr os pés!
Com medidas destas não admira que andem já a pedir listas dos próximos grevistas e que uma simples piada sirva para nos lixar a vida... Começo a achar que isto está mesmo pior do que naqueles tempos, como dizem os colegas mais velhos...

5.23.2007

Tem a certeza que não tem nada por aí?

Está a terminar o prazo para a recepção de contos para esta iniciativa. As conclusões a retirar, até agora, não são das mais animadoras. Não haverá por aí algumas senhoras com uns trunfos na manga?

Também M. Tavares

"A máquina de Joseph Walser" é uma reflexão curiosa sobre o movimento e a sua relação com a vitalidade/singularidade, nomeadamente humana (as máquinas são apenas um pretexto para a reflexão sobre corpos mortos vs corpos vivos). "água, cão, cavalo, cabeça" é mais ostensivamente sobre a surpresa/susto constante, mas sempre inesperada, de que vamos morrer (que me parece, de forma cada vez mais crua, o grande tema do autor). Este amargo de boca é um punch recorrente na escrita do autor. Espero que não seja tão recorrente na sua vida (desconfio que não seja psicologicamente suportável...).

Escrita portuguesa

Estou a terminar o último de Lídia Jorge, "Combateremos a sombra". Estou desiludida. "O vento assobiando na gruas" é para mim o livro mais bonito dos últimos anos, muito graças à luz que rodeia a frágil personagem duma (d)eficiente mental. "O belo adormecido" tem também muita força quando retrata personagens que são supostamente alheias à autora, como adolescentes e mulheres maduras por eles fascinadas. Parece-me que é isso que falta a este livro: grande parte dele se passa num ambiente social e centrado numa personagem demasiado próximos da autora. Existe uma personagem mais autêntica, que vem doutro lugar, mas entra muito tarde na narrativa e ainda não percebi até que ponto conseguirá ou não transfigurá-la.
A forma como o personagem central, um psicanalista, tenta respeitar a voz dos seus clientes é interessante, mas muito ainda dentro de regras de combate da sombra muito conhecidas; vamos a ver como mudam com a entrada desta personagem tardia.

Por casa

"Let's love Hong Kong" de Yau Ching é um filme lésbico interessante sobre várias perspectivas. Em primeiro lugar o olhar sobre a cidade e o cruzamento de diversos tipos de dipositivos cinematográficos. Em segundo lugar a forma como às três personagens lésbicas correspondem três formas diferentes de habitar a cidade, três classes económicas diferentes. Em terceiro lugar como também a cada personagem corresponde uma disponibilidade diferente para amar e para atravessar esse amor/sexualidade de dispositivos virtuais. Por último, a especificidade própria da personagem mais pobre, chamada Zero, que vive/dorme num teatro (?), conjuntamente com muitos outros, cujo trabalho consiste em vender todo o tipo de objectos em segunda mão numa cidade, desde apartamento a telemóveis (uma recolectora), e que é a única personagem a procurar, ainda, uma interacção amorosa com uma pessoa real e presente, e com base no amor.
É claramente um filme injustamente invisibilizado na cinematografia asiática recente.

E também

...vê-lo dar um passeio ali pelo Martim Moniz e então dizer: realmente eu nunca fui vítima, pelo menos enquanto adulto, do tipo de guetização e olhares racistas de que estas populações são alvo, talvez porque pertenço a uma outra classe social... Ou então: a sociedade portuguesa tem que deixar de ser vítima do colorismo; muitos portugueses ou que se identificam como tal, como eu, não são brancos. Ou então: há que deixar de pensar que a identidade cultural das pessoas tem algo a ver com a sua cor - eu, por exemplo, nunca me identifiquei com a cultura tradicional hindu... E por aí fora...
Até está a decorrer a Semana da Diversidade...

5.22.2007

Lisboa e a diversidade

Será agora que António Costa, visivelmente não branco, vai finalmente pronunciar-se sobre a luta contra o racismo e sobre a promoção da diversidade em Lisboa? Aguardo sentada...

Está quase

O sinal político mais óbvio de que o casamento homosexual está prestes a ser legislado em Portugal é o facto da regulamentação dos direitos da união de facto homossexual ser agora reclamado também pela direita, nomeadamente pelo CDS (que vem reclamar agora igualdade e liberdade individual - mas só até um certo ponto...). Em todos os países governados à esquerda onde isto começou a acontecer com esta clareza e visibilidade o casamento foi aprovado em seguida.

Sempre a reboque

Mas não tenhamos dúvidas: a dinâmica da lógica do agendamento político-partidário destas questões continua muito dependente da agenda comunitária, nomeadamente coisas como as referidas no post anterior acontecem porque é o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos. Se assim não fosse estas agendas continuariam nos bastidores da política portuguesa, mesmo à esquerda...

Conquistas

...que hoje passam quase desapercebidas (por silenciamento dos media mas também pela normalização da homossexualidade) mas que há dois ou três anitos seriam absolutamente excepcionais:
- a temática lgbt no Parlamento Português, pela primeira vez com todas as letras (ver aqui e aqui)
- um cartaz anti-discriminação em campanha estatal com uma mensagem indirecta anti-homofóbica; e no principal centro de cartazes do país:), o Marquês de Pombal (e quem terá uma foto pois que este triste blog sem fotos não teve tempo para lá ir...)

5.18.2007

E continua...

Mais uma vez foram anunciados lucros imensos, na casa dum aumento de lucros de 20% ao ano, para os principais bancos portugueses. E com tudo isto continua o Banco de Portugal com paninhos quentes a proceder à implementação de medidas básicas de salvaguarda dos direitos dos consumidores, além de demorar meses a responder a uma simples carta de reclamação. Mas que bom negócio este!...

5.15.2007

Ai este PS...

Mas porquê, se de facto estamos à esquerda, votar contra a proposta de agilização do divórcio do BE?!!!!

Elevar o nível do debate

Contribuir para viabilizar a candidatura de Helena Roseta à CML.

5.09.2007

Apogeu de um autor

Mia Couto, com "O outro pé da sereia", publicou um romance que, além da sua habitual escrita poética e deliciosamente criativa, é também uma reflexão sobre a forma como se cruzaram em Àfrica vários colonialismos e dominações, nomeadamente dos pretos sobre os pretos, e também sobre as cumplicidades dos portugueses com uns e outros. Neste caminho romanceia a história, faz dialogar religiões, estabelece pontes. Uma obra-prima.

5.02.2007

Profissão de Fé ou O assassínio da política II

Postei há tempos a primeira parte deste post, uma longa citação de Sade. Corresponde talvez ao aspecto que mais me desiludiu e que mais perplexa me deixou, acrescendo ainda que é também o aspecto que mais me desiludiu em Nietzsche, isto é, se os li bem. E que para mim não é uma questão académica mas sim uma questão fundamental, diria até uma questão de fé (uma vez que todo o fundamento não pode aspirar a ser mais do que uma crença). Trata-se da seguinte questão: a política é possível? Ou então: em que se funda a possibilidade dum qualquer contrato civil? E, sendo possível mas altamente improvável, além de ingénua, deve ser por isso um projecto a abandonar?
A resposta de Sade parece ser que não só não é possível como é totalmente contranatura. A vontade de poder em Nietzsche também me parece padecer deste individualismo irreparável.
A minha perplexidade nasce do seguinte: como pode a esquerda querer valer-se de autores tão individualistas? Pois, é verdade, são autores radicais na crítica que fazem aos valores dominantes, a valores que ainda hoje sufocam os homens mas, o que oferecem em troca? Um individualismo literalmente feroz.
Na minha modesta visão são autores a quem falta uma fé que é própria da esquerda: a fé na frágil mas indispensável necessidade de fazer política, de dialogar, de contratualizar. E isto de forma totalmente indiferente à pergunta: qual a natureza humana? Ou, melhor dizendo, renegando essa pergunta, acreditando ser sempre possível ver mais no homem do que uma natureza. (e obrigada a Luís Crespo de Andrade por me ter dado a ver a radicalidade da generosidade utópica)
Talvez sejam autores de tal forma alérgicos à fé, à crença numa qualquer utopia, porque escaldados da crença cristã, que não são capazes de reconhecer a força humana da crença na possibilidade da política (mas, mais do que isso, são os mais radicais ateus, pois não acreditam sequer na necessidade de lutar por uma tal crença). Talvez tenham razão e toda a história e sociologia prove o absurdo desta crença - de qualquer forma preferiria morrer a não acreditar (o que não é difícil pois sinto que me matam profundamente com as suas ideias, a tal ponto me des-norteiam). Toda a verdadeira fé é absurda e a crença na política é de facto a religião civil (e obrigada a Pires Aurélio por me ter dado a ler Carl Schmitt).
P.S.1 - questão marginal (ou se calhar não tanto), mas que também me incomodou foi a imbricação deste extracto de Sade com questões do tipo "deve ser acusado quem apenas cumpre a sua natureza sexual?". Isto porque esta forma de colocar a questão homossexual foi, durante algum tempo, considerada uma forma emancipatória de colocar a questão. Felizmente hoje sabemos que não existe uma natureza homossexual mas sim um conjunto de práticas ditas sexuais (e que não são assim tão delimitáveis quanto isso - o que Sade intuiu brilhantemente) práticas essas que ao serem praticadas entre pessoas que se reconhecem mutuamente determinados papéis de género, são chamadas de homossexuais (e Sade também não sofria ainda da doença da invenção da homossexualidade - enquanto novo tipo humano - quando elogia de forma tão democrática a analidade - Preciado inspirou-se aqui decerto - e despreza as práticas vaginais; e nem por tudo isto sonhava poder ser visto um dia como homossexual...).
P.S.2 - e, para os amigos e aqueles que são próximos o suficiente para saberem que me encontro neste momento a viver talvez a fase mais individualista de sempre da minha vida (trocando por miúdos: não exerço qualquer voluntariado e ganho dinheiro pela enorme força de trabalho que sempre tive), reconheço a enorme ironia da vida em fazer-me ver tão claramente a necessidade desta fé justamente agora. Como me defendo? Direi que para um dia voltar a fazer voluntariado num país onde, nas áreas que me interessam, ele é fortemente amador (e, se calhar, terá sempre de o ser, deverá sempre sê-lo), tenho hoje de tentar garantir um futuro financeiramente mais confortável.

5.01.2007

Vozes interiores

Enquanto este blog anda quase tão adiado quanto os casamentos gay pelo PS, entretenham-se com esta sugestão para quem, como eu, já quase não pára em casa (nem em lado nenhum...) : audiobooks gratuitos na Librivox. Comecei pela Alice no País das Maravilhas e adorei (desde que se tenha a sorte de apanhar um registo de leitura gravado com um volume de altura razoável).