Depois de fazer a capa de alguns jornais com a conversa de que os professores portugueses são os terceiros mais bem pagos do mundo (escondendo que essa hierarquização considera apenas o topo de carreira), a Ministra vem hoje confessar ao
DN que, na entrada da carreira, somos dos mais mal pagos. Mas não é só na entrada. É, pelo menos, nos vinte primeiros anos. Os tais salários aos quais se quer agora condenar 66% da classe.
Veja-se
aqui a tabela salarial e considere-se que cada escalão abarca, em média, 4 anos de serviço. E compare-se com outras tabelas salariais da função pública aplicadas a licenciados... Concluir-se-à que os professores são os funcionários públicos licenciados mais mal pagos.
E mesmo assim, estando a crescer a despesa do Estado, e a aumentar a contratação de funcionários públicos - exactamente o contrário do que prometeu o Governo, e que ainda por cima não clarifica totalmente - é ainda aos professores que se vem, de novo, e após dois anos e congelamento de salários, pedir sacríficios. Irra!
Querem avaliar o mérito? Avaliem PRIMEIRO. E DEPOIS hierarquizem. E finalmente, paguem bem aos que merecem, em vez de simplesmente condenarem 66% dos professores a um sub-estatuto. Porque, uma vez preenchidos os quadros do terço de professores de estatuto superior, quando existirão vagas para os mais novos? Nunca. É isto motivação?
A Ministra afirma também, falsamente, que é possível a um professor ser avaliado com justiça e boa nota nas condições de avaliação que pretende agora impor no novo estatuto. Isso é falso porque as restrições às faltas são tais, e funcionam de tal maneira como condição impeditiva duma boa avaliação, que serão raríssimos os professores que consigam cumpri-las, mesmo desejando. É isto motivação? Não, isto é dizerem-nos: nunca mais progredirão, nunca mais vos pagaremos mais.
E é com profisionais com este entusiasmo que querem ultrapassar
esta vergonha... Nestas condições culturais das famílias - e das localidades - a melhoria ds resultados nas gerações mais recentes prova que os professores são uns heróis - e não ladrões do Estado e do povo, como propagandeiam.