Blog duma gaja... bem... esquisita, estranha, tarada:) Enfim... queer!

6.30.2007

Por cá

"A rapariga morta" tem qualquer coisa de Thelma e Louise dos nossos tempos, na forma como retrata a resiliência das mulheres cruzada com as suas estranhas alianças. Mas é também uma câmara e direcção de actores interessante e uma narrativa desafiadora.
"Dear Wendy" é a cara de Lars von Trier, mas com mais adereços, alegria e juventude. De resto parece-me, por enquanto, uma reflexão importante sobre as estratégias de empoderamento grupal/comunitário não-violentas e seus limites, principalmente quando confrontadas com a falta de respeito de autoridades/governos. E também uma reflexão mais geral sobre como todos os instrumentos de poder tendem inevitavelmente a ser exercitados, quer se tratem de armas, textos, dinheiro, etc; ou seja, sobre como o respeito se conquista numa luta diária, violenta, que nunca poderá ser pacifista/passiva, no sentido em que nunca poderá dispensar o uso de instrumentos de poder. Senão, acontece-nos o que acontece às nêsperas...
Por fim, a colecção Berardo - um bluff... Compre-se durante vinte anos umas dezenas de quadros (o mais "vistosos", grandes e coloridos, possível) da família de diferentes movimentos importantes mas de autores secundários/de terceira linha, junte-se-lhes fotos (mais baratinhas) e arte pop (também mais baratinha, de mais fácil leitura para o povinho e também "cheia de cor"), e meia dúzia de obras relevantes (meia-dúzia: um Francis Bacon, um Yves Klein, um Mondrian, uma Louise Bourgeois....) e está feito! Temos uma colecção para encher o olho aparentemente superior à de qualquer outra instituição portuguesa e podemos fazer acordos fantásticos com o Governo fazendo-nos passar por património nacional.
Interessante, só mesmo algumas obras portuguesas, mas devo dizer que ainda não fui à Gulbenkian ver os 50 anos de portuguesinhos deles...
E a videobiografia de Abramovic (por mera fixação pessoal minha...) e uma boneca de Niki de Saint Phalle (por desmascarar o marketing e a falta de originalidade de muito do trabalho de Joana Vasconcelos:)...
Enfim, realmente em terra de cegos...

6.28.2007

Ansiedade de género

O lugar onde cresce a homo e transfobia - dos outros e a nossa própria, internalizada, tantas vezes a pregar-nos rasteiras...

Boa reflexão para o 28 de Junho, Pride Day...

O cú, o centro da democracia

Anda por aí uma polémica de partir o côco a rir, sobre sexo anal. Talvez levante tanta celeuma porque nada como o ter cú nos iguala tanto; já Preciado dizia que ele era o "centro contra-sexual universal", ou seja, um dos elementos a partir dos quais é possível construir uma gramática corporal diferente, transistiva, fora dos centramentos fálicos.
A invisibilização do cú que todos temos e daquilo que com ele todos fazemos (todos os dias e minutos antes da morte), iguala-nos de tal forma que foi central nos discursos democráticos de autores como Sade e Pasolini.
Quanto ao resto, o meu preferido é este:) [uma vez que não há nada mais menos fálico e contra-porno como alguns vídeos queer que já aqui postei e que agora não encontro]

6.27.2007

LOL

Second Life terá Parada Gay nesta quinta-feira

Na próxima quinta-feira, 28/6, Dia Internacional do Orgulho Gay, está marcada a pimeira Parada Gay virtual do Brasil. O "evento" acontece no Second Life, plataforma virtual que simula a vida real.A Parada Gay é promovida pelo GLS Brasil GLS e acontecerá durante o dia todo. O grupo promete a presença de DJs, drags e go-gos. Qualquer "avatar" pode participar.
Mix Brasil

6.26.2007

Europride

Uns amigos pediram-me que divulgasse o seguinte:
Caros amig@s(s),
Estamos a organizar uma viagem de fim-de-semana à nossa vizinha Espanha – Madrid, onde se vai realizar o EuroPride 2007, no dia 30-06-2007 (Sábado, pelas 18,00 horas). Nesta Marcha esperam-se 2 milhões de pessoas!

Para o efeito disponibilizamos 55 lugares em autocarro.

Preço simpático (ida e volta) 60,00 € (SESSENTA euros), nem mais!!!!

Local do ponto de partida: CAMPO DAS CEBOLAS, Lisboa
HORA de PARTIDA COM DESTINO A MADRI, Gran Via – Dia 30-06-2007 (Sábado) – às 8,00 horas – deverão estar presentes no local meia hora antes da partida – 7,30 horas;

HORA DE CHEGADA A LISBOA, Campo das Cebolas – Fim da tarde de Domingo – 20,00 Horas.

Para mais informações contactar:
jpg.abreu@gmail.com
João Paulo Abreu – 964393539

A reserva é feita com pagamento por Multibanco da totalidade – o talão da transferência é o talão da reserva.

Reserva até 5ª feira às 12 horas; envie o seu email e terá a confirmação de lugar até 5ª feira às 24 horas

NIB – 001800002497553900140 – Banco Santander Totta – João Paulo Gomes de Abreu

Casar a política local com uma agenda lgbt

A revista gay espanhola Zero dedicou grande parte do seu número de Maio às eleições autárquicas espanholas que se iriam realizar.
A primeira novidade tem um carácter gráfico mas também simbólico: a capa é, pela primeira vez, dum político do PP, Gallardón. Outras novidades gráficas são a presença de anúncios partidários do PSOE, da Esquerra, do PP (nomeadamente Esperanza Aguirre, que viria a ganhar com maioria absoluta em Madrid), do PSC (nomeadamente Jordi Hereu, que ganharia de novo, com maioria simples, em Barcelona), da ICV- EuiA, do PSOE (Canárias) e da IU (Inés Sabanés).
Em termos de conteúdo duas coisas interessantes: por um lado, a entrevista a Gallardón, pelo que mostra do que pode ser o argumentário dum novo centro-direita (que cá parece estar a ser seguido por Pires de Lima e Teresa Caeiro); por outro, mini-entrevistas a muitos candidatos que permitem comparar as promessas ao eleitorado lgbt cá e lá.
Quanto a Gallardón, ele é claro: a direita deve centrar-se, assim como a esquerda, e as “posturas extremistas” devem ter “cada dia menos possibilidades de protagonizar a vida pública”. Tudo menos a possibilidade de “que jamás nadie se levante preocupado porque sepa que sus valores esenciales no van entrar en crisis” [caso numas eleições um “partido extremista” tenha expressão]. O centrão em alternativa sem alternativa, portanto – a total manutenção do status quo.
Quanto ao seu discurso face à diversidade resume-se a: todos somos iguais mas tratemos igual o que é igual e diferente o que é diferente.
Em primeiro lugar tem um enorme cuidado com o seguinte: não existem preconceitos ideológicos em função da orientação sexual, diz ele. Ou seja, apesar da história partidária demonstrar que a esquerda tem sido muito mais generosa com as populações lgbt que a direita (o PP interpôs recurso no Tribunal Constitucional contra o casamento homossexual, por ex.), insiste a direita em dizer que não têm de haver preconceitos... e o pior é que há efectivamente lgbts que compram isto...
Muito cuidadinho tem também com o seguinte: sim, claro, diz ele, a administração pública deve trabalhar com as minorias. Mas nem todas devem ter o mesmo tratamento.
E ainda: dialogar, claro, dialogamos com todos. Mas medidas institucionais para aumentar a participação, não.
Exemplos de políticas activas de promoção da cidadania lgbt? A promoção económica da Chueca, pois, afirma. Parece que estou a ouvir o João Soares quando defendeu as virtudes turísticas do Festival de Cinema Gay e Lésbico... Mas também defende claramente todo o apoio logístico ao Europride (a marcha do orgulho em Madrid é este ano europeia), o apoio a todas as suas conferências e debates, a participação da Câmara neles. Mas na Marcha do Orgulho, não participaria (apesar de participar em marchas pró-família).
Quanto ao PP continuar a ser contra a adopção por casais homosexuais (já aprovada) e contra o casamento (já aprovados): os homossexuais nunca estiveram proibidos de adoptar individualmente, ninguém lhes perguntava se o eram (don’t ask, don’t tell adoptivo portanto...); quanto ao casamento, deveria ter os mesmos direitos mas outro nome porque é... conceptualmente (?)... diferente, diz.
Reconhece o erro de não terem querido regulamentar os direitos das uniões de facto homossexual (será que o nosso CDS/PP também já percebeu este erro, por isso é que agora o defende?).

Bem, o importante é que mesmo esta entrevista, e a mini-entrevista feita a Aguirre, demonstram que há determinadas preocupações de agenda que já estão interiorizadas, até pela direita, e que cá nem por toda a esquerda: a administração pública local tem um papel de luta contra a discriminação importante; os eventos lgbt mais importantes devem ser logisticamente apoiados pelas Câmaras e estas devem participar neles institucionalmente nos lugares de debate.

Quanto a realidades e promessas aos eleitorados lgbt, à esquerda, temos as seguintes lições: em Barcelona existe, desde 2003, um Conselho Municipal de Gays, Lésbicas, e Homens e Mulheres Transexuais (é consultivo e participam nele todas as associações lgbt de Barcelona); o candidato do PSOE Madrid propõe-se criar um Observatório dos Direitos Humanos e Contra a Discriminação.
Existe uma forte consciência de que é nas localidades que mais deve ser posta em prática a legislação nacional anti-discriminação, nomeadamente em programas anti-discriminação nas escolas, em políticas de habitação não discriminadoras e que evitem os guetos, no apoio a actividades desportivas (por ex. este ano vai haver no dia do Orgulho em Madrid uma corrida intitulada 10 km de Orgulho).
Defende-se o apoio não só ao Dia do Orgulho, como também ao Dia Internacional contra a Homofobia e Transfobia.
Defende-se legislação especificamente anti-homofóbica.

Mas permanece uma grande dificuldade, principalmente na esquerda comunista, mas também em alguns socialistas: não se consegue passar do discurso da igualdade para o da diversidade, da igualdade na diferença. Daí que continue sem se reconhecer a existência de eleitorados (de que os lgbt são um ex.) e não dum eleitorado, de políticas contra a discriminação e não de políticas da igualdade.

Duas excepções notórias são: Jordi Hereu (que ganharia em Barcelona) que usa categorias como “aceitação da diversidade”, “reconhecimento da heterogeneidade”, “para conseguir a igualdade às vezes há que atender a necessidades diferentes”, e que é defensor das secções lgbt nos partidos como medida provisória de luta por uma futura igualdade (secção lgbt que existe há muito no PSOE); outra excepção é Inma Mayol (ICV-EuiA), que refere preferir inclusão a integração, usa categorias como “reconhecimento da diversidade e do outro”, defende mais legislação mas, principalmente, políticas activas por parte da Câmara, como o apoio a edições escolares lgbt, a promoção da pluralidade nas associações de pais escolares, etc.

Já agora de notar que gays assumidos foram eleitos Guillem Espriu (PSC, 13º na lista) e Xavier Florença (Esquerra, 3º na lista), ambos em Barcelona; e José Araújo, pelo PP, em Ourense. De salientar também, como candidata, Kim Pérez, primeira candidata transexual pela Izquierda Unida-Granada.

Compare-se de novo estes discursos, estas iniciativas e estas visões de diálogo institucional, com o que se passou aqui (mesmo após terem sido questionados), e conclua-se que muitos candidatos lisboetas andam a dormir no que a 15 ou 20% do seu eleitorado diz respeito...
No rescaldo da Marcha do Orgulho e Arraial Pride, é de saudar a presença de Sá Fernandes e as propostas do seu programa (apesar de, institucionalmente, o Fórum Municipal e o Observatório da Cidade que propõe serem demasiado generalistas para uma efectiva promoção da diversidade; já as propostas relativamente ao apoio à Marcha, Arraial e Festival de Cinema são excelentes); é de estranhar a ausência de Roseta (que, tanto quanto julgo saber chegou a estar confirmada), apesar de ser de louvar as suas declarações em favor dum mecanismo institucional local de auscultação das discriminações. Quanto ao seu Roteiro para a Cidadania sabe institucionalmente a muito pouco. Mas o que realmente não se percebe de todo é a ausência de António Costa, aparentemente mesmo muito alheado das questões da diversidade, tão alheado que, mesmo quando vai visitar a comunidade hindu, fica-se apenas por lhe gabar o poderio económico e cultural, e por vezes político. Já do valor da diversidade em si (nomeadamente da diversidade étnica, que até aparece bastante mencionada no programa), nem cheiro...
(texto escrito Domingo às 24h como contributo para a conversa que tenho vindo a ter no cinco dias)

6.24.2007

Pois que gosto de Marchas, sim senhora:)

Aqui podem ver como ia convicta e bem acompanhada.
Aqui podem ver como a luta contra a homofobia está enraízada em lutas muito mais vastas - ou seja, as marchas do orgulho são de tod@s e para tod@s.

6.23.2007

Isto mexe:)

Os, até agora, dois únicos candidatos a Lisboa que afirmam ir participar na Marcha do Orgulho dão sinais na net do seu envolvimento e grau de compromisso:
- Sá Fernandes com o Dossier LGBT sempre actualizado e na entrada do site, nomeadamente dando entrada ontem: a agenda da Ilga Portugal para Lisboa, um documento interno de discussão promovida por Ana Prata, Bruno Maia, Fabíola Cardoso, João Carlos Louçã, Paulo Vieira e Sérgio Vitorino apresentado durante a V Convenção do Bloco de Esquerda, as iniciativas lgbt do Bloco, e links lgbt. E com a Marcha na agenda de hoje.
- Helena Roseta, muito mais discretamente, sem a Marcha na agenda apesar de se contar com a sua presença, com link para a sua proposta na Ilga um pouco enterrado, e dando visibilidade a uma proposta minha de agenda institucional lgbt para Lisboa.
Vamos a ver como saiem os discursos e se aparece mais alguém (onde anda o resto da esquerda, pelo menos?!....)
Nota: António Costa encontrou-se ontem com a comunidade hindu, mas nem cheiro de discurso pela diversidade... (apreço sim pelo seu poderio económico e cultural, e muitas vezes político, donde descende o goês António Costa).

6.22.2007

Dia do Orgulho!

Amanhã, contra o medo, o insulto e o estigma!
Marcha (16h30 Príncipe Real) e Arraial Pride (18h Terreiro do Paço), em grande festança!
Bora lá!

6.21.2007

Impreparação

As autárquicas semi-surpresa e relâmpago em Lisboa demonstram à saciedade aquilo que todos sabemos mas que esperamos sempre não ser totalmente verdade: a total impreparação dos nossos políticos, principalmente quando apanhados desprevenidos. Sem tempo para conselhos consultivos ou para estruturação de programas em equipa, não dizem uma para a caixa...

6.20.2007

Conheçamo-nos então

Também na RCCS António Fernando Cascais explicita em “Diferentes como nós” os vários momentos históricos por que passou o movimento lgbt português.

Começa por esclarecer que não existe movimento antes do 25 de Abril, mas que o 25 de Abril por si só não é o suficiente para o seu nascimento.
As oposições à ditadura não tiveram agenda (homo)sexual, apenas a “questão da mulher” (numa perspectiva laboral) e a “questão da juventude”.
Nesse artigo é identificada a principal ambiguidade desse movimento nascente, a saber, o facto de ter como referencial cultural e político um sector que frequentemente o enjeitou, nomeadamente o sector da esquerda; por ser uma esquerda que nos anos 60 e 70 passou ao lado das transformações culturais que então ocorriam, ainda por ser uma esquerda que, pós-25 de Abril, se depara com um país de tal forma atrasado que cai na tentação de afunilar o questionamento e a acção política, e por ser uma esquerda que nunca soube integrar, de forma visível e descomplexada, os homossexuais assumidos e/ou as suas associações no seu seio (ao contrário de Espanha onde na oposição anti-franquista existiam já embriões de associativismo gay e onde o movimento homossexual surge associado às movimentações políticas autonómicas da Catalunha, afirma Cascais).

No pós-25 de Abril Cascais divide historicamente a evolução do movimento da seguinte maneira:
“1974-1990 – primeiro período (com um eixo em meados da década de 80)
1990-1991 – período de transição, com características mistas
1991-1994 – segundo período
1995-1997 - – período de transição, com características mistas
1997 ao presente – terceiro período”

No primeiro período “A esquerda partidária e sindical, sobretudo comunista, (…) define-se em função do ruralismo tradicional e do industrialismo do séc. XIX e é herdeira directa da cultura neo-realista que, como notou Eduardo Lourenço (1978), veicula uma imagem populista idealizante do povo português que prolonga e chega a reforçar, mas não subverte, o nacionalismo do Estado Novo”. É assim que a “questão homosexual”, como bem refere, é adiada para um futuro sem classes e considerada uma questão divisionista pequeno-burguesa.
Mas o que se mantém fundamentalmente, enuncia Cascais, é a suspeita face a uma [qualquer] revindicação identitária no quadro fundacional duma esquerda de matriz iluminista [e que nunca, e ainda não, criticou o seu falso universalismo; exemplo gritante disso é o facto de não termos ainda sequer políticos feministas]. Daí que a resolução da “questão homossexual” fosse vista como uma resolução meramente legal, um caso de reconhecimento de direitos sem qualquer especificidade, enquadrada em secções como a “libertação do quotidiano” e a “transformação da vida”.
De notar que é neste âmbito que a medicalização da homossexualidade começa também a ser tratada, no âmbito mais vasto da medicalização do desvio e da anti-psiquiatria, o que constitui o primeiro avanço da cultura científica de esquerda [não resisto aqui a agradecer a uma tal Teresa, minha prof. de Psicologia que, em 1982, no meu 10º ano, me deu a ler a bíblia da anti-psiquiatria, Cooper].
Neste período os homossexuais não têm literalmente voz, são objectos do discurso dos outros, à excepção de Guilherme de Melo, o primeiro a falar em nome dos “homossexuais”.
Aponta ainda a breve existência do MHAR (Movimento Homossexual de Acção Revolucionária), em Maio de 1974 [a que pertenceu António Serzedelo], que não sobrevive à resposta pública de Galvão de Melo, logo após.
A dificuldade em penetrar na esquerda leva alguns a formar, em 1980, o CHOR (Colectivo de Homossexuias Revolucionários), apoiado na organização cultural Culturona, em cuja sede junta centenas de pessoas no seu lançamento. Não sobrevive à dita mas realiza ainda os Encontros “Ser(homo)sexual”, pelo CNC, em 1982, onde o próprio Cascais apresenta o primeiro texto de reflexão teórica sobre o movimento.

A reformulação da esquerda de molde a poder reconhecer a agenda emancipatória homossexual só se inicia com o cruzamento de três factores: a adesão à Comunidade Europeia, o cavaquismo e a epidemia da sida.
É no quadro desta esquerda arcaica e presa no séc. XIX que, afirma ainda Cascais, a emancipação homossexual é frequentemente empurrada para uma esquerda revolucionária, uma esquerda de recusa outsider do sistema [de que é ainda sintoma o discurso das ditas “questões fracturantes”]. Disso é sinal o nascimento do GTH (Grupo de Trabalho Homossexual) do PSR (Partido Socialista Revolucionário).
Este primeiro período é dividido em dois, em 1982, quando a crise económica e social leva à crise da participação política e associativa e ao fechamento da maior parte dos espaços gay de Lisboa.
Já em 1986, com a adesão, surge a expectativa de acesso ao adquirido europeu, nomeadamente cultural e jurídico, que não mais deixará de influenciar a abertura da esquerda à agenda homossexual. A partir de 1987 o cavaquismo força a esquerda a repensar-se.
Em 1986 a morte de António Variações é sentida como tragédia colectiva sobre a comunidade gay.
É na história da relação do movimento homossexual com o combate à sida que Cascais vem a assumir aspectos que António Serzedelo reclama há muito e que sempre foram escamoteados (escamoteamento esse que continuou a gerar desconfianças inter-associativas durante muitos anos...). Reconhece Cascais que o movimento associativo homossexual nasce no movimento de luta contra a sida, ganha visibilidade e respeitabilidade pública nele (uma vez que não era forte anteriormente não sofre o backlash que sofeu o movimento americano e beneficia do politicamente correcto tratamento de um qualquer outro paciente de sida, na base, indiferenciada diga-se, dos direitos humanos e da cidadania; para isto contribuiu também o atraso da comunicação social em tratar o tema, o que evitou a fase perigosa dos “grupos de risco”) e, isto é que nunca tinha sido assumido antes, sofre os custos de um certo paternalismo desse movimento contra a sida [e aqui não é esmiuçado um dado importante: como surge esse paternalismo. A Abraço, que se via a si própria como elite médica esclarecida, em reunião com as associações lgbt, pretendia ser ela a liderar a comunidade...].
Aqui, e uma vez que se trata de pensar a influência do movimento de luta contra a sida na formação do movimento lgbt, penso também que seria intelectualmente honesto referir a forma como o apoio económico da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida possibilitou em grande medida, e possibilita ainda, a sobrevivência financeira da associação homossexual mais institucional, a Ilga Portugal.
Ao invisibilizar este aspecto Cascais pode deixar de mencionar que é esta ocultação que permite que o discurso emancipatório gay surja desvinculado do discurso de luta contra a sida, mesmo quando as cinco Marchas anuais (ainda em 1997-2002! – veja-se como estava esta comunhão enraízada) em Memória e Solidariedade com as Pessoas Infectadas com o VIH/SIDA são organizadas pela Ilga Portugal (aspecto simbólico fundamental que não refere), quando isso era, à época, um aspecto bem mais problemático dentro do movimento (para aqueles, como a Opus Gay, que defendiam o afastamento do movimento da organização – que não da participação – nestes eventos, e o afastamento da dependência financeira da CNLCS, assim como da CML…).
Cascais acaba até por dizer que a associação com a luta contra a sida traz visibilidade respeitável à comunidade homossexual, quando o que se passou, no meu entender, foi que foi feita uma grande luta em todos esses anos, nomeadamente pela Opus Gay, para que outras agendas homossexuais surgissem mediaticamente e desvinculassem efectivamente o movimento da vaga persecutória ligada à sida que poderia ter sofrido…
Cascais prossegue enunciando uma modificação estratégica na agenda gay por efeito da epidemia: da luta pela cidadania sexual centrada na reivindicação de direitos respeitantes à conduta prática e à identidade, para uma centrada nos direitos na relação [também aqui me parece que esta foi uma modificação dominante mas não foi a única; há quem tenha persistido na primeira linha, e ainda hoje privilegie outras lutas que não o casamento…]. Esta estratégia possibilita um discurso de integração, igualdade e indiferença. É por estes caminhos que começa a ouvir-se o construcionismo queer e a afirmação do lgbt para além do gay.

Com a terceira fase do movimento, a partir de 95-97, a comunidade torna-se um sujeito histórico dotado de voz própria: o Clube Safo e o PortugalGay.Pt e a Korpus em 96, a Ilga, o Festival de Cinema e a Opus em 97, o Vidas Alternativas em 99.
Cascais refere que existe um acolhimento por parte da esquerda, que culmina com João Soares à fente da CML, mas, a meu ver, há que analisar o discurso de Soares, e não só as práticas de apoio à Ilga e ao Festival de Cinema, para concluir se há ou não um acolhimento ou se há apenas um aproveitamento político e turístico…
Até aos nossos dias surgem múltiplas associações, até for a dos grandes centros, diferenciadas internamente, com capacidade de acolhimento de eventos internacionais, reconhecidas pelo associativismo mundial. A articulação com a academia é ainda puca. Mas existe [alguma] interlocução com as instâncias governamentais e político-partidárias. Nesta fase aúrea penso que falta enunciar um aspecto simbólico importante, que é a inscrição em eventos nacionais importantes património da esquerda, como o 25 de Abril e o 1º de Maio, de que teve iniciativa a Opus Gay. Também neste sentido, aproveito desde já para referir que me parece de suma importância a participação no centenário da República em 2008 (adiamentos do casamento para lá dispensam-se, no entanto…).
Ao invisibilizar as sementes de algumas discódias inter-associativas dentro do movimento lgbt, Cascais pode também dar-se ao luxo de não referir o triste espectáculo de exclusão da Opus Gay e dos seus dirigentes em vários processos que decorreram no Fórum Social Português, aspecto importante pois foi uma grande oportunidade de acção e questionamento trans-associativo a nível nacional que ficou inquinada e des-energicizada por isso.
O final do artigo lança um alerta: “(…) o associativismo atinge [hoje] aquilo que tudo indica ser um limite de crescimento, o qual, por sua vez, é contemporâneo (mas não o efeito) do início de uma reacção anti-emancipatória e de um ambiente político e mediático adverso que configuram uma nova situação agónica, não sem certas similitudes com aquela que o precipitou.” (p. 124)
Não é essa a minha intuição. Penso que o associtivismo vai é que mudar, renovar-se, de estilo e de instituições. E também não vejo um clima adverso – vejo até a possibilidade de uma maior aceitação da nossa agenda via agenda anti-globalização.
Contra este decair que identifica Cascais aponta como solução o auto-conhecimento [fundamentalíssimo]: quem somos, património histórico, sócio-história, etc [daí ser fundamental exigir ao Estado um serviço de recolha de dados nacional e profundo, conforme recomenda a UE]; e o conhecimento dos nossos inimigos.
Por fim, e reconhecendo o esforço notório e pioneiro de sistematização de Cascais neste seu artigo, não deixo de sentir algum desconforto por não ver nele reflectidas as preocupações mais especificamente lésbicas, motivadas por outras forças que não a epidemia da sida, muito mais ligadas, via Clube Safo e diversas pequenas publicações, ao desenvolvimento social e cultural do que ao desenvolvimento político. Mas esse retrato, reconheço-o, terão eventualmente de ser as lésbicas a fazê-lo…

Esconder o Sol com a peneira

Só que este Sol é negro...

O queer como racionalidade política

“(...) pensar o evento de um outro modo (único, imprevisível, sem-horizonte, in-domável por qualquer ipseidade ou qualquer performatividade convencional e, por conseguinte, consensual), um pensar marcado num por-vir que, para além do futuro (uma vez que a exigência democrática não espera), nomeia o vir de quem virá ou do que se virá a dar, nomeadamente o recém-chegado cujo irromper não pode nem deve ver-se limitado por uma hospitalidade condicional imposta nas fronteiras policiadas do Estado-nação”. Uns estudos queer de tipo fraco, vadio e incondicionalmente hospitaleiro seriam de molde a franquear as suas fronteiras e a tornar-se porosos (algo que obviamente implicaria uma abertura a outras línguas e uma crítica da soberania de seja que língua for, e concretamente do inglês como língua franca dos estudos queer), abrindo-se inclusivamente (...) à possibilidade de “talvez um dia abandonar essa herança – esse património – que é o nome, que é mudar os nomes” . Este deixar acontecer metaperformativo e perverso – ou perverformativo -, faz a “soberania voltar-se contra si própria”, compromete a sua imunidade e recorda-nos que a democracia está sempre “em processo de auto-imunização”. (p. 137)
O texto mais filosófico e utópico da revista é “Que há de tão queer na teoria queer por-vir?” de Michael O’Rourke. É também o mais ambicioso pois que faz coincidir a racionalidade queer com uma nova racionalidade política em geral.
A teoria queer-por-vir corresponde ao indeterminável, monstruosos e vadio futuro dos estudos queer. Esse indeterminável coincide com um novo Iluminismo, uma nova razão democrática por-vir, uma messinicidade sem messias, sempre diferida, adiada, anti-identitária. Ela nasce duma recusa incondicional da soberania, ou seja, duma fonte última e absoluta da autoridade. Esta nova justiça-por-vir é uma teoria queer fraca (por oposição à força soberana) que pensa a imprevisibilidade de um evento necessariamente desprovido de horizonte, ou seja, o singular vir do outro. O queer é a metáfora política da ausência de um referente fixo. Halperin dizia que era o apontar em frente sem saber ao certo o que apontar.
O caminho nesta direcção é uma vadiagem, uma caminho não di-recto (non-straight), um princípio de desordem estruturada conspirando contra a ordem pública; são também vadios os outros que continuamente chegam ao corpo dos estudos queer. A humildade epistemológica de estar disponível ao outro, sempre descentrado, gera a sua/nossa contínua contestabilidade e re-significação, num processo permanete de auto-imunização, de negociação e mudança para inclusão do outro em prol da preservação, de autocriticabilidade e perfectibilidade. Esta exposição ao outro, àquilo e àquele que lá vem, ao monstruosos chegante, é sempre incalculável e constituiu uma metaperformatividade, um esperar sem esperar, um deixar que aconteça.
“(...) os movimentos antiglobalização, com esses vadios que se erguem contra o Fundo Monetário Internacional, o G-8 e o Banco Mundial a perfilarem-se como as mais vadiocráticas encarnações e implementações da messianicidade sem messianismo, capazes de vir a gerar um mundo mais queer. A força fraca dessas bestas intratáveis, marchando de encontro a todas as organizações hegemónicas deste mundo, é aquilo que melhor prefigura a democracia por-vir neste nosso tempo de emergência global” (p. 133)

Para lá do casamento e da heteronorma

Ainda na RCCS Sasha Roseneil em “A vida e o amor para lá da heteronorma” apresenta uma análise sociológica queer das mudanças sociais, criticando a heteronormatividade habitual da sociologia no estudo das relações pessoais, ou seja, desalojando a famílçia e o casal hetero do lugar central que têm ocupado no imaginário intelectual (esta senhora vai gostas disto:)
A realidade da família é normalmente perspectivada como sexual, monogâmica, diádica, co-residente, e resultando em filhos.
Roseneil argumenta que cada vez mais encontramos pessoas dependentes de redes e fluxos da intimidade e do cuidado não familiares (a família tradicional é uma prática minoritária no Reino Unido e dispararam o número de pessoas a viver sozinhas). Nestas redes ou intimidades não-heteronormativas [“(...) relações significativas e definidoras de toda uma vida, estabelecidas entre amigos, amantes não-monógamos, ex-amantes, parceiros a viver separados, ou entre pessoas que simplesmente não se encaixam no sitema de classificação binária “amigo(a)”/”amante” (...)” ] há uma fluidez entre a amizade e o sexo (com estatuto prioritário da amizade, que invade muito mais o espaço doméstico e pode até permanecer longas temporadas, quando em crise pessoal), a “pessoa de eleição” pode ser alguém com quem não se tem sexo (descentralização da relação sexual ou até amorosa, da conjugalidade, nas narrativas de vida) e há uma desestabilização do binário homo/hetero (uma experimentação não teleológica para lá da conjugalidade heteronormativa, ou seja, não se pretende vir a morar junto, nem vir a ter um compromisso de longo prazo – aposta-se num projecto em curso que dê prazer mútuo no presente).
Resumido, há práticas homossexuais que se estão a difundir cada vez mais, entre todos, quebrando a heteronorma. E não parece que estas pessoas não-heteronormativas estejam ansiosas por se casarem...[poderem ter esse direito ou não é outra conversa; devem tê-lo porque a igualdade é que é um símbolo de cidadania, não o casamento em si].

Lamento mas...

A RCCS publicou um número dedicado aos estudos queer de que faz parte um artigo de Miguel Vale de Almeida intitulado “O casamento entre pessoas do mesmo sexo”, onde MVA se esforça, a meu ver ingloriamente, para demonstrar que a exigência do casamento pelo movimento lgbt não é uma exigência inteiramente integracionista (curiosamente é num artigo de Sasha Roseneil, também nessa revista, que percebemos bem que é).
A tese principal do artigo é de que o casamento é um símbolo da pertença à polis e que, como tal, pode ser sujeito a transformações e renegociações com a entrada dos homossexuais no seu quadro. Disto não há dúvida. Mas não deixa de ser um símbolo de heteronormatividade, uma vez que não existe casamento nas diversas culturas com regras assim tão diversas quanto isso, no que diz respeito à conjugalidade, deveres, coabitação, etc. Ou seja, ao contrário do que afirma MVA, o casamento não é por essência vazio, não é uma instituição desprovida de conteúdo ou de noção de relação, que pudesse ser maleável pela inclusão nele das parelhas homo.
Por outro lado, se de facto é importante o reconhecimento pelo Estado, que transforma uma prática numa parte do contrato social, esse reconhecimento vem de facto em troca duma formatação da relatedness, ao contrário do que afirma, uma formatação heteronormativa.
Resumindo: querem domesticar-nos... casem-nos.

6.19.2007

Chiça, que isto é muito bom!

São coisas assim que me fazem acreditar (ainda mais).

6.18.2007

Sinal de que as coisas avançam

A Divisão de Informação Legislativa e Parlamentar produziu um documento sobre legislação comparada sobre casamento e uniões homossexuais.

Conhecer para agir

Um manual sobre porquê e como compilar dados sobre discriminação a nível nacional - urgente em Portugal onde a falta de vontade política em sequer conhecer tem impedido o avanço de acções pró-activas.

6.11.2007

Pura inspiração

"...whatever good the ideas of "objectivity" and "transcendence" have done for our culture can be attained equally well by the idea of a community which strives after both intersubjective agreement and novelty -a democratic, progressive, pluralist community of the sort which Dewey dreamt. If one reinterprets objectivity as intersubjectivity, or as solidarity, (...), then one will drop the question of how to get in touch with"mind-independent and language-independent reality". One will replace it with questions like"what are the limits of our community?Are our encounters sufficiently free and open? Has what we have recently gained in solidarity cost us our ability to listen to outsiders who are suffering? To outsiders who have new ideas?". These are political questions rather than metaphysical or epistemological questions. Dewey seems to me to have given us the right lead when he viewed pragmatism not as grounding, but as clearing the ground for, democratic politics.
If you give up on the project of escaping from "human peculiarities and perspectives", then the important question will be about what sort of human being you want to become. If you accept the distinction between the public and the private realms, (...), then this question will divide into two sub-questions. The first is: with what communities should you identify, of which should you think of yourself as a member? The second is (to adapt Whitehead's definition of religion): what should I do with my aloneness? The first is a question about your obligations to other human beings. The second is about your obligation to, in Nietzsche's words, become who you are."PP1,Int,p.13

Rorty super polémico

"But the pragmatist,dominated by the desire for solidarity,can only be criticized for taking his own community too seriously. He can only be criticized for ethnocentrism, not for relativism. To be ethnocentric is to divide the human race into the people to whom one must justify one's beliefs and the others. The first group-one's ethnos-comprises those who share enough of one's beliefs to make fruitful conversation possible". PP1,SO,p.30 e em nota"(...)Bernard Williams makes a similar point in terms of a distinction between "genuine confrontation" and "notional confrontation". The latter is the sort of confrontation which occurs, assymmetrically,between us and primitive tribespeople. The belief-systems of such people do not present, as Williams puts it, "real options" for us, for we cannot imagine going over to their view without "self-deception or paranoia". These are the people whose beliefs on certain topics overlap so little with ours that their inability to agree with us raises no doubt in our minds about the correctness of our own beliefs. (...)So I would hold that there is no truth in relativism, but this much truth in ethnocentrism: we cannot justify our beliefs(...) to everybody, but only to those whose beliefs overlap ours to some appropriate extent. (This is not a theoretical problem about "untranslatability", but simply a practical problem about the limitations of argument; it is not that we live in different worlds than the Nazis or the Amazonians,but that conversion from or to their point of view,though possible,will not be a matter of inference from previously shared premisses.)"

Morreu Rorty:(

A questão não é saber quem sou mas sabermos quem somos, como enfatiza Haraway. Mas foi Rorty quem primeiro chamou a atenção para a necessidade de substituir um falsamente neutro príncipio da objectividade por um de solidariedade:
"There are two principal ways in which reflective human beings try, (...)to give sense to those lives. The first is by telling the story of their contribution to a community. This community may be the actual historical one in which they live, or another actual one, distant in tyme or place, or a quite imaginary one(...). The second way is to describe themselves as standing in immediate relation to a nonhuman reality. This relation is immediate in the sense that it does not derive from a relation between such a reality and their tribe(...). I shall say that stories of the former kind exemplify the desire for solidarity,and that stories of the latter kind exemplify the desire for objectivity."
Isto porque a primazia deve ser dada à ética e não à, também falsamente neutra, ontologia:
"But the pragmatist does not have a theory of truth, much less a relativist one. As a partisan of solidarity, his account of the value of cooperative human inquiry has only an ethical base, not an epistemological or metaphysical one. Not having any epistemology, a fortiori he does not have a relativist one."
E, nessa conversa sobre quem somos e quem devemos ser, a literatura vai, pelo menos, a par da filosofia, e muito à frente da ciência:
"I think that Feyerabend is right in suggesting that untill we discard the metaphor of inquiry, and human activity generally, as converging rather than proliferating(...) we shall never be free of the motives which led us to posit gods. (...)If we could ever be moved solely by the desire of solidarity(...) then we should think of human progress as making it possible for human beings to do more interesting things and be more interesting people(...). Our self-image would employ images of making rather than finding,the images used by Romantics to praise poets rather than the images used by the greeks to praise mathematicians."

6.07.2007

Privação material

Há um outro índice arrasador: percentagem de famílias que vivem em privação material, assim definidas: "Hoseholds with at least one of the following items: cannot afford a week’s holiday; unable to keep home adequately warm; cannot eat meat, hicken, fish every second day; unable to pay scheduled rent or utility bills or hire purchase; cannot afford a colour TV; no telephone; no car for rivate use.
Material deprivation is defined as the enforced lack of a combination of items depicting material living conditions, such as housing conditions, ossession of durables, and capacity to afford basic requirements."
Neste índice Portugal atinge o máximo de cerca de 70% (!),a Grécia nos 60%, a Espanha nos 49%, a Itália nos 40% e os restantes países da UE 15 numa média de 25%.

Nunca é demais lembrar

Eurostat calculates the following ratio to compare ’rich’ and
’poor’: total equivalised income received by the 20% of the
population with the highest income in relation to that received
by the 20% of the population with the lowest income. The 20
% of the EU-25 population with the highest income received
almost five times as much income as the 20% of the population
with the lowest income in 2004. The widest inequality was
recorded in Portugal (7.2), while the Nordic Member States, the
Czech Republic (2003), Hungary (2003) and Slovenia (2003)
reported the lowest inequality ratios (between 3.1 and 3.5).
Eurostat 2006-07

6.05.2007

Fugir à mono-normatividade

Call for contributions
Understanding Non-Monogamies Edited by: Dr. Meg Barker & Dr. Darren Langdridge
Contact:Dr. Meg Barker, Psychology Department, Faculty of Arts and Human Sciences,London South Bank University, 103 Borough Road, London, SE1 0AA. Email: barkermj@lsbu.ac.uk
Dr. Darren Langdridge, Faculty of Social Sciences, The Open University,Walton Hall, Milton Keynes, MK7 6AA. Email: d.langdridge@open.ac.uk
Most psychological and social scientific work on intimate relationships hasassumed a monogamous structure, or has considered anything other thanmonogamy in the context of 'infidelity'. Openly non-monogamous patterns of relating have been largely excluded from research and theory (Barker, 2007).
Pieper and Bauer (2005) termed this exclusion 'mono-normativity', and suchprivileging of the monogamous couple can be seen as part of wider heteronormative discourses which explicitly or implicitly present the'opposite-sex' dyad as the 'natural', 'normal' or 'ideal' way of being.There is little recognition of the growing numbers of 'opposite-sex' couples who are involved in swinging, polyamory, or some other form of opennon-monogamy (e.g. McDonald, 2007), or of the significant numbers of thosein gay, bisexual, and to some extent, lesbian communities, who are involved in openly non-monogamous relationships (e.g. Adam, 2006; Klesse, 2005; Musen& Stelboum, 1999). Calls for various forms of relationship recognition forsame-sex couples have been seen, by some, as part of a continued marginalisation of those who practice their relationship in less'traditional' ways, with Michael Warner, and others, arguing that suchdrives towards normalisation reify dominant and 'damaging hierarchies ofrespectability' (1999, p.74).
In recent years there has been a growing interest in exploring variouspatterns of intimacy which involve open non-monogamy (e.g. Adam, 2004;Barker, 2004; Jackson & Scott, 2004). This has culminated recently in an international conference on mono-normativity (Pieper & Bauer, 2005) and aspecial issue of the international journal Sexualities on polyamory: 'a formof relationship where it is possible, valid and worthwhile to maintain (usually long-term) intimate and sexual relationships with multiple partnerssimultaneously' (Haritaworn, Lin & Klesse, 2006, p.515). Research on thetopic has captured public attention with a flood of newspaper coverage in 2005 following the presentation of Ritchie & Barker's research on thelanguage of polyamory (see Ritchie & Barker, 2006). Open non-monogamy couldbe seen as a burgeoning 'sexual story', with over a million google hits for the topic of polyamory alone, and a growing number of 'self-help' stylebooks on the topic (e.g. Anapol, 1997; Easton & Liszt, 1997; Taormino,forthcoming 2007).
The proposed book seeks to provide further discussion and debate about open non-monogamous relationships. We are keen to invite empirical andtheoretical pieces considering the various non-monogamous patterns inexistence today. We welcome empirical and theoretical work concerned withthe history and cultural basis of various forms of non-monogamy, experiencesof non-monogamous living, psychological understandings of relationshippatterns, language and emotion, and the discursive construction ofmono-normativity. We are keen to invite submissions that address issues ofrace, class and disability, as well as sexuality and gender. We also wish toinclude political and activist writing, as well as pieces from community representatives. We are not seeking work that pathologises open non-monogamyor focuses on 'infidelity'. Nor are we looking for anthropological studieson polygamy and polyandry.
We hope to include contributions from academics and activists from as wide a range of countries as possible, especially those traditionallyunder-represented in academic and activist writing in the English language.
Prospective authors are invited to contact the editors at the earliest possible opportunity to discuss potential submissions. The closing date forchapter abstracts is 31st August 2007 and (provisionally) for completedchapters 31st March 2008 (electronic submission preferred).

Centralidades (e margens)

Este ano parece que é mesmo; após o anúncio não confirmado em agenda da CML no ano passado, é este ano que o Arraial Pride será no Terreiro do Paço. Esta festa contribui assim, no Ano Europeu da Igualdade, para a afirmação simbólica da centralidade da cidadania lbgtq no país.
Outro sinal de centralidade é a chegada ao Tribunal Constitucional do pedido de casamento de Teresa e Helena; ser possível a simples formulação jurídica do pedido junto do principal Tribunal do país é já um sinal de centralidade/poder. A impossibilidade jurídica dele ser negado, à luz do artigo 13 da Constituição, será outro. Resta agora saber se tal reconhecimento de igualdade simbólica chegará por via jurídica ou política: resumindo, se o Governo terá coragem política para aprovar aquilo que a lei já obriga ou se aguardará passivamente pela resposta judicial.
Por fim, a Marcha do Orgulho sai da Avenida para o Príncipe Real. Desconheço quais as razões das associações promotoras. Mas o reconhecimento de que a cidadania lgbtq implica sempre também um percurso alternativo, um diálogo próximo das margens, dos espaços publicamente ambíguos (como os jardins sempre foram), é uma boa possibilidade.
Nas margens de tudo fica também a homofobia, visível e invisível, em relação à qual todas as lutas estão ainda por fazer. Daí que a marcha, enquanto luta contra o medo, continue a ser o acto mais político e mais necessário de todos.

6.02.2007

A greve II

Mais histórias de perseguição... Mais legislação restritiva dos direitos fundamentais...
Um grande abraço de solidariedade aos trabalhadores do Metro. O meu obrigada!

Densidade ontológica:)))


Abrir bem os olhos!

Este é um alerta para uma certa corrente que anda por aí:















6.01.2007

"Estatuto" e filosofia de vida. Anos 30...

“Sendo certo que para um pequeno empregado [de comércio ou escritório], com 500$ ou 600$ por mês, não havia de ser nada fácil fazer face ao seu dia-a-dia, o seu “estatuto” obrigava-o a apresentar-se com algum cuidado no escritório; o trabalho da esposa fora de casa já não era bem visto(...); havia que pôr, pelo menos, um filho homem na escola comercial ou industrial(...)”

“Apesar de poderem auferir ordenados até três vezes superiores aos dos pequenos empregados e funcionários, a vida da classe média estava, normalmente, longe de se poder considerar desafogada. Na realidade, tinham despesas de habitação, vestuário, educação dos filhos, assistência médica, cultura ou lazer muito superiores, conformemente ao seu “estatuto”, o que obrigava a uma vida pautada por uma verdadeira “cultura” da poupança, da continência, do apanágio das pequenas comodidades, das pequenas alegrias, das pequenas virtudes (...)”.

“Verdadeira retaguarda rural [o semiproletariado ou semicamponês], actuava não só como almofada amortecedora das crises de desemprego ou de subsistência [que consequências para a ausência desta almofada hoje? Revolução?...], mas igualmente como grande pântano moderador das tensões sociais, viveiro natural do fatalismo, da resignação, do temor reverencial pelos poderes estabelecidos, da prudência, da pobreza honrada e respeitadora – dessa ideologia pequeno-camponesa de sobreviventes agradecidos (...)”

O pequeno comércio. 30!

“A esmagadora maioria destes pequenos lojistas (...) não tinha qualquer ideia de gestão empresarial. Abria-se um negócio rudimentar com o magro investimento de uma árdua e prolongada poupança, para fugir à dureza e à miséria do trabalho assalariado, para fugir ao desemprego, para “não se ter patrões”, com a ilusão de se “subir na vida”. A proliferação do pequeno comércio era, em boa medida, uma expressão do subemprego endémico...”

E sobre as empresas. Anos 30!

“... [uma realidade industrial] caracterizada pelo domínio [mais de 50%] dos sectores tradicionais ligados à produção de bens de consumo ou pouco duráveis e com exigências relativamente escassas de tecnologia, especialização e capital e marcada por uma dispersão empresarial, associada a um largo peso do sector artesanal, oficinal e de pequenas empresas mais ou menos familiares, descapitalizadas e de equipamento e e tecnologia rudimentares.”

Isto a par de mecanismos de concentração de capital, apoiados pelo Estado, monopolistas (nas indústrias mais poderosas) e de cartel (nas médias).

“Portugal era totalmente dependente do exterior no tocante a combustíveis líquidos (...) e largamente dependente no que respeitava aos combustíveis sólidos...”

Quem toma a iniciativa industrial são os grupos familiares [muitos feitos no comércio], sendo que a banca investe em jogadas financeiras [o mercado do dinheiro a curto prazo], e não no investimento industrial ou crédito à indústria. “A banca é o coração desta quadratura [comércio internacional, comércio colonial, companhias de navegação e ela própria] (...)”
“Os grandes negócios da banca e do import/export eram controlados há várias “dinastias” por poderosos grupos familiares, liderados, muitas vezes, por destacadas personalidades do mundo político e universitário (...)”
“Eram a elite tradicional da riqueza e do Poder no País...”
“O privilégio do alto dignatário do Estado advinha, antes demais, da natureza do Poder e do seu exercício num regime autoritário e numa sociedade maioritariamente rural (...). Mas decorria também da estrita interdependência, a este nível, entre o pessoal político e os grandes interesses económicos. Não só muito do alto funcionalismo, uma vez interrompido o seu serviço e “sacrifícios” públicos, era chamado a lugares cimeiros da banca e de outros grandes interesses privados (...)”

A greve

Na História de Portugal de José Mattoso, em volume coordenado por Fernando Rosas, sobre o Estado Novo, lê-se o seguinte as condições laborais e sindicais de hoje, perdão digo, dos anos 30:
“liquidação das liberdades sindicais e das antigas associações de classe pelos decretos de Setembro de 1933 [Decreto-Lei 23050 de 23 de Setembro de 1933].”

“... a indústria repousava estruturalmente na manutenção de baixos salários...”

“...impunha-se o problema da precariedade dos postos de trabalho: com o movimento sindical debilitado, duramente reprimido e depois liquidado enquanto organização livre e plural; com a activa resistência patronal a toda e qualquer forma de contratação colectiva...”
“... o patronato mantinha um largo exército de trabalhadores “adventícios”, como se lhes chamava, na reserva, normalmente para actividades não especializadas, sem qualquer vínculo, pagos a preços baixíssimos e que despedia assim que acabava a tarefa para que eram solicitados.”
“...o Governo, em Agosto de 1934, se viu obrigado a reafirmar administrativamente a jornada de oito horas de trabalho para a indústria (...), o horário legal continuava a ser soberanamente ignorado por largas faixas do patronato...”
“A criacção das caixas sindicais de previdência dependia da “vontade dos interessados”, ou seja, da celebração de contratos colectivos de trabalho, e o patronato opunha-se...”